Período sensório motor-motor
Ocorre nos dois primeiros anos de vida. Nesse período, as estruturas mentais restringem-se ao domínio dos objetos concretos. Na fase inicial, predominam as atividades reflexas congênitas, surgindo gradativamente os primeiros hábitos motores, os primeiros esquemas perceptivos organizados e os afetos diferenciados. O bebê ainda não apresenta um pensamento propriamente dito. Ainda não existem a linguagem e a função simbólica, repousando as atividades mentais exclusivamente em percepções e movimentos. A atividade cognitiva do bebê concentra-se, portanto, sob um conjunto coordenado de atividades sensório-motoras, sem que participe a representação ou o pensamento. A imitação é um procedimento fundamental nesse período para o desenvolvimento da cognição; imitação aqui é uma prefiguração, um núcleo embrionário da representação; no dizer de Piaget: “uma espécie de representação em atos materiais e ainda não em pensamento”.
E apenas no final do período sensório-motor que surgem os “objetos permanentes”. As pesquisas de observação detalhada desenvolvidas por Piaget revelaram que o universo inicial do bebê é um mundo sem objetos, consiste apenas em “quadros móveis e inconsistentes”, os quais aparecem e, logo, desaparecem completamente. Antes do final do primeiro ano de vida, quando a mamadeira é afastada do campo visual do bebê, ele chora desesperadamente como se o objeto se tivesse desfeito.
Quando um objeto é escondido atrás de um pano, o bebê tem a sensação de que o objeto deixou de existir. Por volta dos 9 a 10 meses, o objeto escondido na frente do bebê passa a ser procurado ativamente por ele, denotando o inicio dos chamados “objetos permanentes”.
No período sensório-motor, não há ainda a diferenciação eu-mundo; a criança está totalmente centrada em si mesma (egocentrismo). A partir do segundo ano de vida, desenvolve-se mais cabalmente a percepção do mundo externo. Os conceitos de “coisas”, “espaço”, “tempo” e “causalidade”, como categorias práticas do dia a dia, estruturam-se ao final desse período.
Período pré-operatório
Ocorre entre os 2 e os 7 anos de vida. São processados, nesse período, o domínio dos símbolos e o desenvolvimento da linguagem, dos sentimentos interpessoais e das relações sociais. O brincar passa a ser um dos principais instrumentos do desenvolvimento cognitivo da criança.
Segundo Piaget, entre 1 ano e meio e 2 anos de idade surge uma função extremamente importante para a evolução das habilidades cognitivas posteriores, que consiste na capacidade de poder representar alguma coisa. Um objeto ou um acontecimento passam a ter um “significado”, que é representado por um “significante” específico, que só serve para essa representação. Surgem e desenvolvem-se, portanto, a linguagem, as imagens mentais, os gestos simbólicos, etc.
O tipo de inteligência do estágio pré-operatório baseia-se naquilo que Piaget chama de “meia-lógica”. Nessa meia-lógica, as operações mentais já obedecem a determinada lógica; entretanto, essa é incompleta, faltando-lhe, por exemplo, a noção de reversibilidade nas operações e de conservação física. O pensamento lógico trabalha apenas em uma direção. A noção de identidade é, por exemplo, fundamentalmente qualitativa, faltando a sua dimensão quantitativa. Assim, diz Piaget, uma criança em fase pré-operatória comete o erro lógico afirmando que a quantidade de água varia de acordo com a forma do seu quantitativa da água). Entretanto, essa mesma criança afirmará que, ao se mudar o recipiente, é a mesma água (qualitativamente) que se encontra no novo recipiente.
Segundo Piaget, atividades semióticas, representativas, como o desenho, o brincar e a linguagem, desenvolvem-se nesse período, com consequências essenciais para o de desenvolvimento cognitivo: a palavra vai gradativamente se interiorizando, plasmando-se uma linguagem interior, base do pensamento propriamente dito. Além disso, a ação ganha, de forma progressiva, uma dimensão totalmente social e, o que é mais fundamental, ocorre o processo de interiorização da ação, isto é, progride-se de um plano basicamente perceptivo e motor para um plano de imagens e experiências puramente mentais.
Período operatório-concreto
Entre os 7 e os 12 anos de idade, a criança aprende a dominar cabalmente as classes, as relações e os números, assim como raciocinar sobre eles. E o início do pensamento lógico, denominado por Piaget como “operações intelectuais concretas”. A socialização desenvolve-se plenamente por meio da escola ou fora dela, surgindo o sentido de cooperação social. A operatividade, marca do período operatório-concreto, é caracterizada pela possibilidade da criança agir seguindo uma lógica, em função das implicações e consequências de suas idéias e pensamentos.
Entretanto, nesse estágio, as relações entre as classes somente podem ser compreendidas quando apresentam evidência completa, isto é, quando estão de alguma forma presentes ou relacionadas ao campo perceptivo. Os sistemas de pensamento, de símbolos e relações puramente abstratos, só chegarão ao seu pleno desenvolvimento no período seguinte.
Fonte: texto extraído do livro: Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais