Maus-tratos contra crianças podem ocorrer das mais variadas formas, porém estudos apontam que o abuso sexual se destaca por ser o que mais trás danos físicos e psicológicos.
A experiência do abuso sexual pode afetar o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social de crianças de diferentes formas e intensidade. Os diversos fatores associados ao abuso também devem ser considerados, visto que contribuem para o desenvolvimento de consequências psicológicas severas para a criança, que se não tratadas podem se perpetuar por toda a vida.
O abuso sexual pode ocorrer no meio intrafamiliar e extrafamiliar. O abuso intrafamiliar ocorre quando é provocado por parentes próximos, dentro do próprio lar gerando consequências psicológicas mais danosas a vítima. Outra forma de abuso sexual intrafamiliar é o incesto.
O incesto é caracterizado pela estimulação sexual intencional provocada por alguns dos membros do grupo que possuem vínculo parental. A vítima é obrigada a aprender a conviver com o incesto, ele abala a totalidade do mundo da criança. O agressor está sempre presente e o incesto é quase sempre um horror contínuo para a vítima.
O abuso extrafamiliar é provocado por pessoas que possuem vínculos com a família, mas não convivem no mesmo lar. Ocorre com uma frequência menor, mas com níveis elevados. Os principais abusadores são adultos que cuidam dessas crianças, como casos ocorridos em creches, escolas, lares grupais, etc…
As consequências do abuso são diversas e severas. Tem-se sequelas a curto prazo como: problema de ajustamento sexual, preocupação com assuntos sexuais, aumento das atividades masturbatórias, súbito aumento das atividades heterossexuais, desenvolvimento prematuro e discrepante dos interesses e da independência do adolescente.
Mudanças súbitas e extremas tais como distúrbios alimentares e afetivos, comportamentos agressivos ou de autodestruição e pesadelos podem ser observados em crianças e adolescentes em situação de abuso sexual. Medo, perda de interesse pelos estudos e brincadeiras, dificuldades de se ajustar, isolamento social, déficit de linguagem e aprendizagem, distúrbios de conduta, baixa autoestima, fugas de casa, uso de álcool e drogas, ideias suicidas e homicidas, tentativas repetidas de suicídio, automutilação e agressividade também têm sido descritos.
As alterações cognitivas podem incluir: baixa concentração e atenção, dissociação, refúgio na fantasia, baixo rendimento escolar e crenças distorcidas. Tais crenças revelam-se pela percepção de culpa pelo abuso, diferença em relação aos seus pares, desconfiança e percepção de inferioridade e inadequação. As alterações emocionais referem-se aos sentimentos de medo, vergonha, culpa, ansiedade, tristeza, raiva e irritabilidade.
O atendimento psicológico de crianças vítimas de abuso sexual é de extrema importância, e vai de acordo com as necessidades de cada criança. Não é possível generalizar os efeitos do abuso sexual para todas as crianças, pois a gravidade e a quantidade das consequências dependem da singularidade da experiência de cada vítima. O acolhimento da criança e de sua dor é o primeiro passo para um bom resultado do tratamento físico e emocional que serão necessários.
O abuso sexual permanece cercado por uma barreira de silêncio e se mantém perpetuado pela ignorância. Estratégias de atendimento e acolhimento à vítima devem ser criadas, com a presença de equipes multidisciplinares que estejam focadas no atendimento e entendimento de como essa violência é vivenciada pela criança.
Viver um trauma físico e psicológico faz com que a vítima questione sua capacidade de defesa. Ela passa a perceber que o seu corpo pode ser controlado por outras pessoas, que alguém pode tocá-lo sem o seu consentimento. Essas consequências, entre tantas outras, afetam não só a própria vítima, mas a sociedade como um todo, que pode vir a sofrer com uma criança que fora traumatizada no passado e hoje se torna um adulto que adota comportamentos agressivos ou passivos para lidar com as situações cotidianas.