TOC Infantil

Você sabia que crianças podem desenvolver TOC? É isso mesmo, a neuropsicóloga Celina Vallim, explica que o transtorno obsessivo compulsivo pode ser muito comum entre os pequenos. Confira o artigo.

Por: Dra. Celina Vallim
22/06/2023

O que é? 

O transtorno obsessivo se caracteriza por pensamentos, imagens ou ideias de conteúdo sempre ruim que invadem a mente da pessoa independente da sua vontade. Tais pensamentos, conhecidos como obsessões, nem sempre são reconhecidos como sendo sem sentido pelas crianças que apresentam este transtorno, devido ao pensamento mágico e fantástico próprios desta faixa etária. No entanto, estas obsessões causam comprometimento funcional e sofrimento, que podem ser percebidos pelas próprias crianças ou por seus familiares.

Em contrapartida, para avaliar a ansiedade que as obsessões causam, existem as compulsões (popularmente conhecidas como “manias”), que seriam regras ou rituais que a criança desenvolve para buscar alívio ou para evitar os pensamentos obsessivos. Por exemplo: quando uma criança pensa repetidas vezes de que algo ruim pode acontecer com a figura materna ou com alguém muito próximo, pode adotar determinadas “manias” (compulsões), como deixar seus brinquedos simetricamente organizados, adotar padrões rígidos no vestir, contar todos os seus passos etc., na tentativa de evitar que nada de mal aconteça às pessoas queridas.

Estes rituais e pensamentos tomam uma proporção exagerada, que além de deflagrar um sofrimento intenso, escraviza o comportamento da criança. Outros exemplos são os pensamentos relacionados a sujeiras ou doenças, que podem fazer com que uma criança lave as mãos várias vezes ao dia, nunca vá ao banheiro da escola ou aceite brincadeiras que tenham qualquer tipo de contato físico, como um simples aperto de mão.

Quando acontece?

Apesar de a maioria dos casos terem seu aparecimento no início da vida adulta, hoje já é sabido que pode ter início precoce. Neste caso, a idade de aparecimento mais comum é na adolescência, mas pode aparecer a partir dos seis anos. Sabe-se que o início é mais precoce em meninos, podendo aparecer entre seis e quinze anos, enquanto que para as meninas costuma aparecer em torno de onze anos. Estudos clínicos indicam que há uma continuidade dos sintomas na vida adulta. A prevalência na infância varia de 0,2 a 1,9%.

Qual a causa?

Provavelmente há influência de fatores genéticos, de neurotransmissores (principalmente a serotonina) e a influência da atividade do lobo frontal (parte frontal do cérebro).

Outras teorias defendem a influência de fatores psicológicos. Sem dúvida, a dinâmica familiar tem um papel importante no aparecimento e na evolução deste transtorno. Principalmente pela forma como cada família desenvolve para enfrentar os problemas do dia-a-dia e de se relacionar.

Na infância é comum a comorbidade (transtorno associado) com o Transtorno de Ansiedade de Separação, sendo que este aparece inicialmente como único transtorno.

Como detectar?

Da mesma forma que o adulto pode sentir vergonha destes pensamentos ou atos/compulsões, a criança também pode ter vergonha. A melhor maneira de detectar é a observação. Se seu filho apresentar, por exemplo:

  • Preocupações excessivas com fatos cotidianos, a ponto de interferir no seu funcionamento;
  • Verificações com torneiras, portas fechadas, repetidas vezes;
  • Preocupação exagerada com sua saúde ou de alguém próximo, sem que haja justificativa para isso, a ponto de mostrar sofrimento;
  • Organização excessiva com seus objetos, a ponto de comprometer seu horário de estudo ou mesmo lazer;
  • Atitudes ou rituais que tomem uma parte considerável de seu tempo, repercutindo na execução de tarefas ou pontualidade.

Converse com ele e procure ajuda especializada. Quanto mais precoce for detectado este transtorno, melhor sua evolução.

Como é o tratamento?

É necessário fazer uma avaliação detalhada por um profissional especializado. É preciso que a criança adquira confiança neste profissional para que possa se sentir à vontade para expressar sobre estes pensamentos e compulsões. A avaliação deve abranger entrevistas individuais com a criança ou adolescente, outra com os responsáveis e uma com a família reunida. Este processo é fundamental para ver como a dinâmica familiar interfere no aparecimento e desenvolvimento dos sintomas, mesmo que não intencionalmente. A partir disto será é estabelecido o tratamento propriamente dito, que compreende o uso de medicamentos e psicoterapia associados. São fundamentais a informação e a orientação para todos que convivem com o paciente de forma significativa, inclusive da escola, para que a evolução do quadro seja favorável.

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