“A advocacia não é profissão de covarde”: a trajetória de Érico Claro

A trajetória do advogado Érico Claro é um acerto de contas com o passado. Ele concede uma entrevista à equipe do Correio no escritório que ocupa no centro de Artur Nogueira.

Por: Correio Nogueirense
11/08/2025

Algumas frases fazem parte da trajetória de Érico Claro, 37 anos:

“Há muito preconceito com a atuação do advogado criminalista. Alguns enxergam como se estivéssemos defendendo o crime, e não os direitos”.

“O criminalista defende a legalidade, a justiça e os direitos fundamentais. Não há Justiça sem defesa”.

“A advocacia não é profissão de covarde.”

A trajetória do advogado Érico Claro é um acerto de contas com o passado. Ele concede uma entrevista à equipe do Correio no escritório que ocupa no centro de Artur Nogueira.

Desde criança, Érico Claro sonhava em ser advogado. Era um desejo que compartilhava com seus pais, mesmo sabendo das limitações financeiras da família. Filho de uma vendedora — hoje cabeleireira — e de um jardineiro, Érico viu no estudo uma oportunidade de transformação, mas nem sempre o caminho esteve ao alcance imediato.

As perdas familiares marcaram profundamente sua vida. Perdeu dois irmãos: um deles, filho somente de seu pai, faleceu aos 11 anos após um traumatismo craniano na escola. O outro, Bruno, com quem conviveu intensamente, faleceu de leucemia aos 16 anos, apenas dois dias após o nascimento da filha de Érico. “Foi o maior trauma da minha vida. Por muito tempo, me vi sem fé.”

Ele disse que a religião espírita, que conheceu na vida adulta, trouxe novo significado à dor. “Entendi que a morte é apenas física. O espírito segue em evolução.”

Durante a infância, diante de uma relação conturbada com o pai, Érico encontrou em uma figura próxima um espelho de valores e conduta. Seu tio Júnior foi uma referência importante. “Ele foi para mim um exemplo de homem digno, honesto, trabalhador. Venceu na vida como pai, empresário e ser humano. Foi, sem dúvida, uma das maiores influências que tive na infância.”

Érico conta que, mais do que uma referência, ele foi uma presença constante, o aconselhando em momentos importantes de sua vida. “Como eu tinha uma relação distante com meu pai, o tio Júnior assumiu esse papel com naturalidade, me orientando como um verdadeiro pai. Sempre pensou no meu futuro, me incentivou nos estudos e me ensinou, com atitudes e palavras, a ser um cidadão honesto, digno e respeitador. Seus conselhos e seu exemplo marcaram profundamente minha formação pessoal”, diz.

Ao olhar para toda sua trajetória, Érico reconhece que muito do que se tornou também se deve à figura do seu tio. “Ele sempre pensou no meu futuro, me incentivava a estudar, a ser uma pessoa boa, honesta e digna. Ele foi fundamental para minha formação como cidadão e como homem.”

Após concluir o ensino médio, ingressou no curso de Administração, mas não conseguiu concluir a graduação. Casado e com uma filha a caminho, teve que deixar a universidade para priorizar o sustento da família. Trabalhou durante anos no comércio e também no setor público, até que conseguiu retornar à sala de aula e, com esforço e disciplina, formou-se em Direito.

Durante o curso, conciliava uma rotina exaustiva: trabalhava o dia inteiro em uma loja de automóveis em Artur Nogueira, e à noite seguia para a faculdade. “Foi muito difícil no começo, mas eu tinha um objetivo muito claro”, relembra.

O apoio da esposa, da filha e da mãe foram fundamentais. O pai, que não chegou a vê-lo formado, sempre soube desse sonho e o incentivou enquanto pôde. “Como filho único, realizar esse sonho era uma forma de honrar a história da minha família.”

Aprovado no exame da OAB, Érico deu início à advocacia após deixar o cargo de secretário municipal. Abriu seu próprio escritório sem ter feito estágio, contando apenas com a base acadêmica e a coragem de quem já havia enfrentado muitos desafios. Um dos primeiros apoiadores foi o advogado Dr. Richardson Faria, que o acolheu e o orientou nos primeiros passos.

Sua escolha pela advocacia criminal, no entanto, trouxe questionamentos — inclusive de pessoas próximas. “Há muito preconceito com a atuação do advogado criminalista. Alguns enxergam como se estivéssemos defendendo o crime, e não os direitos”, afirma.

Com o tempo, viu esse estigma se dissolver até mesmo entre familiares que só entenderam a importância do seu trabalho quando precisaram de sua atuação em situações delicadas.

“O criminalista defende a legalidade, a justiça e os direitos fundamentais. Não há Justiça sem defesa.”

O advogado comenta que, após a morte do irmão Bruno, a relação com o pai se transformou. Passaram a morar no mesmo terreno, em casas separadas, e reconstruíram a relação de pai e filho. “Cuidei do meu pai até o último dia de vida. Sou grato por recuperar esse vínculo.”

Com o passar dos anos, o escritório se estruturou. Hoje, conta com advogados em diferentes áreas do Direito — como cível, trabalhista, previdenciário, tributário e administrativo — além de estagiários e equipe de apoio.

Embora tenha começado com foco exclusivo na área criminal, a atuação se ampliou, inclusive para outros estados.

“Atendemos pessoas físicas e jurídicas em diversas regiões do Brasil, mas sem perder a identidade que nos trouxe até aqui.” A atuação de Érico hoje concentra-se no Direito Criminal e no Direito Administrativo.

Futuro da Advocacia

Apesar da evolução tecnológica na advocacia, Érico acredita que a presença humana permanece insubstituível. “A inteligência artificial ajuda, mas o contato com testemunhas, provas, perícias e com o ser humano exige algo que a máquina não entrega: empatia e sensibilidade.”

Fora do ambiente profissional, valoriza os momentos simples com a família e os amigos. Gosta de churrasco, de reuniões descontraídas, de jogos como truco e bocha. Apreciador de caminhadas, já praticou Jiu-Jitsu e pretende retomar em breve.

“São coisas que me equilibram.” É também apaixonado por futebol — torcedor declarado do Corinthians — e por música, especialmente o bom e velho rock and roll.

Pai presente, tem orgulho da trajetória da filha, hoje com 17 anos. Ela o acompanha desde os 13 no escritório e, apesar de já ter demonstrado interesse pelo Direito, se apaixonou pela Medicina. Estuda atualmente em um curso preparatório específico para o vestibular da área. “Respeito e apoio a escolha dela. O mais importante é que ela siga o que ama.”

Em meio à rotina, Érico segue estudando. É pós-graduando em Direito Penal, Processo Penal e Criminologia pela PUC-Campinas, e acredita que o estudo constante é essencial. “O advogado não pode parar. As leis mudam, os entendimentos evoluem. O segredo é nunca se acomodar.”

Reconhece também a importância do suporte institucional que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) oferece aos advogados em Artur Nogueira. “Temos hoje uma sede nova, moderna e bem localizada, que presta um grande serviço aos profissionais da cidade.”

Por fim, o Dr. Érico Claro deixa uma mensagem aos que sonham com a advocacia: “É uma área saturada, sim, especialmente em estados como São Paulo. Mas se é seu sonho, não desista. Estude, persista, faça por merecer. Com dedicação e fé, é possível realizar.”

E conclui, citando Heráclito Fontoura Sobral Pinto, ou simplesmente Sobral Pinto, ao longo de quase um século de vida recebeu o epíteto de Senhor Justiça. O apelido foi conquistado por defender, com a mesma veemência, os direitos de simples cidadãos e os princípios constitucionais, enfrentando presidentes e generais. “A advocacia não é profissão de covarde.”

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