É impossível passar pelas ruas de Artur Nogueira e região e não se surpreender com a explosão de cores dos ipês. Amarelos, roxos, rosas e brancos transformam a paisagem urbana em verdadeiros cenários de cartão-postal. Na entrada da cidade, por exemplo, os ipês rosa chamam a atenção de quem chega, enquanto nas praças e avenidas, o chão se cobre de flores como um delicado tapete colorido.
Nas redes sociais, o espetáculo natural se multiplica em fotos e vídeos, reforçando o fascínio que essas árvores provocam. Mas, por trás de tanta beleza, há também um sinal de alerta.
Florada fora de época
Tradicionalmente, os ipês florescem em sequência: os roxos entre junho e julho, os amarelos entre julho e agosto, os rosas entre agosto e setembro, e os brancos entre setembro e outubro. Neste ano, porém, todas essas variedades desabrocharam quase ao mesmo tempo, logo no início de setembro.
Segundo um especialista ouvido pela reportagem, esse comportamento está diretamente relacionado às mudanças climáticas. As floradas respondem a estímulos externos como aumento da temperatura, alternância entre ondas de calor e frentes frias, além da baixa umidade relativa do ar. “Tudo isso estimula a vegetação e faz com que os ipês sincronizem sua florada, às vezes até mais de uma vez durante a mesma estação”, explica.
Esse fenômeno pode se tornar cada vez mais frequente, e traz riscos. De acordo com o especialista, a antecipação ou multiplicidade das floradas pode comprometer o desenvolvimento saudável das árvores, enfraquecer sua capacidade de reprodução e desequilibrar a relação entre espécies.
Ameaça do superbrotamento
Além da questão climática, outra preocupação é o chamado superbrotamento, que atinge algumas variedades, principalmente o ipê-rosa. A doença, causada pela bactéria Candidatus phytoplasma, provoca crescimento desordenado nas pontas dos ramos — conhecido como “vassoura-de-bruxa” — e enfraquece a planta. O tratamento possível é a poda, mas, como a bactéria se aloja no sistema condutor da árvore, o problema é difícil de combater de forma definitiva.
O símbolo do Brasil
Mais do que um espetáculo visual, os ipês carregam um peso simbólico. O ipê-amarelo é considerado flor nacional do Brasil desde 1961, quando o presidente Jânio Quadros assinou o decreto que oficializou sua representatividade. São cerca de 100 espécies encontradas em diferentes biomas do País — e em nenhum outro lugar do mundo.
Por florescerem no inverno, quando há poucas espécies disponíveis, os ipês ainda exercem papel essencial para a fauna, oferecendo néctar e pólen para insetos, aves e beija-flores, que encontram nesses recursos um alívio em épocas de seca.
Assim, o espetáculo que hoje colore ruas e praças não é apenas sinônimo de encantamento, mas também um lembrete de que a natureza segue reagindo às transformações do clima — e que cabe a todos refletir sobre os impactos dessas mudanças.


