A ocorrência da violência sexual pode originar diversas consequências, tanto físicas como psicológicas. No primeiro grupo encontramos lesões físicas gerais, lesões nas áreas genitais e anais, gestação, doenças sexualmente transmissíveis e disfunções sexuais, mas ao mesmo tempo é preciso também focar a nossa atenção nas consequências psicológicas, devido a sua íntima relação com ideações e tentativas de suicídio.
O dano psicológico no caso de abuso sexual pode estar relacionado a vários fatores. Rildo Silveira cita os mais significativos:
- Idade do início do abuso;
- Duração do abuso;
- Grau de violência ou ameaça de violência;
- Diferença de idade entre a pessoa que cometeu o abuso e a criança que sofreu o mesmo;
- Relação entre a pessoa que cometeu o abuso e a criança;
- Ausência de figuras parentais protetoras;
- Grau de segredo.
Por este motivo, segundo o Perito, dependendo dos fatores, as consequências poderão ser mais ou menos profundas, como os sintomas de depressão, que costumam estar frequentemente associados a episódios de tentativa de suicídio.
Rildo explica que a depressão é um dos fatores que levam em muitos casos ao suicídio e caracteriza-se pela “distorção” cognitiva do afeto e pensamento, portanto não se trata necessariamente da natureza do evento como fator determinante da depressão, porém, da maneira como a criança ou adolescente o percebe. “Como já falei em outras ocasiões falando sobre as consequências do abuso sexual, uma das manifestações de depressão extrema é sem dúvidas a tentativa de suicídio. É preciso dizer que a frequência do comportamento suicida entre jovens aparenta estar aumentando nas últimas décadas, e a adolescência está se destacando como o período mais relacionado à morte devido a causas violentas”.
Entre as principais causas do suicídio entre os adolescentes por exemplo, o Perito fala que as causas mais comuns, são o abuso sexual sofrido e fatos relacionados a bullying. “Na minha opinião, não podemos citar uma única causa para o suicídio de crianças e adolescentes, pois estamos perante a uma questão complexa que abrange múltiplas causas, mas posso dizer que a depressão é sem dúvidas um dos sintomas principais que podem levar ao comportamento suicida. Analisando alguns casos de abuso sexual especialmente de adolescentes vítimas observei que além do comportamento com tendências suicidas a maioria das vítimas, especialmente meninas, a prática mais comum que acompanhava “a ideia do suicídio” na maioria dos casos era aquela de automutilação”, explica.
Segundo Silveira, é preciso entender que há duas características presentes nestas crianças e adolescentes: a tristeza e a insegurança, que em muitos casos são provenientes de uma sensação de desamparo, desesperança e de uma visão da vida “sem futuro”, sem possibilidades de saída.
“Este comportamento ao mesmo tempo pode englobar outros tipos de manifestações comportamentais que na verdade viram um modo para estas vítimas lidar com estes sentimentos de profunda dor. Por este motivo acabam ficando por exemplo agressivas e rebeldes ou ao contrário retraindo-se e isolando-se, fazendo com que esta angustia e dor sem fim passem despercebidos (ficando totalmente reféns da própria dor). A situação torna-se ainda mais complexa quando a violência praticada envolve algum membro da família como seu autor”, disse Rildo.
O Perito explica que as pessoas tentam manter sigilo, devido ao sentimento de culpa, fracasso, medo ou vergonha, podendo gerar diversas consequências para a pessoa que sofreu o abuso, e o suicídio ou automutilação é uma destas.
Segundo Rildo, também é comum que aconteçam ameaças realizadas pela pessoa que comete a violência, como por exemplo abandonar o outro genitor, ou ainda induzir culpa à criança ou adolescente, alegando que se a mesma contar a respeito do abuso, será responsável por doença ou morte dos pais, e tal fato pode gerar dificuldades de a criança ou adolescente manter relações interpessoais sadias, aumentando o risco de tentativas de suicídio.
O Perito fala que o problema do suicídio entre crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual é um problema real, que existe e precisa ser encarado com muita determinação e competência. “Um detalhe muito sério e que considero um obstáculo dentro do aspecto da prevenção é sem dúvidas o despreparo de alguns profissionais que atuam na área, a negligência dos familiares que muitas vezes não percebem os sinais que a criança ou adolescente apresenta, mostrando que há algo errado. É preciso ter mais empatia por estas vítimas e mudar um pouco a mentalidade. Aí pergunto: se todos conseguissem as vezes deixar em um segundo plano seus preconceitos, tabus e enxergar a criança/adolescente que está carente e precisa de apoio de um auxílio específico, será que conseguiríamos resolver algumas situações? ”, questiona.
Rildo deixa um alerta aos pais. “Em qualidade de Perito e Analista de crimes contra crianças e adolescentes, é meu dever alertar os pais sobre estes problemas aqui enfrentados e principalmente alertá-los que a depressão infantil não é frescura! É uma triste e crua realidade, poucas vezes diagnosticada, isso porque, na maioria das vezes, não se presta atenção aos sinais que a criança vai apresentando, por se considerar uma fase ou algo passageiro ou uma forma de chamar à atenção. Esse é um tema que todos precisam conhecer mais a fundo. Não podemos ignorar algo tão importante assim, que atormenta as nossas crianças e adolescentes, abuso sexual e violência doméstica são fortemente ligados a depressão infantil e suicídios”, finaliza.
Rildo Silveira é Perito Judicial e Analista Criminal cadastrado no registro de Peritos do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro (Cadastro atualizado nos moldes da Resolução 02/2018 do E. Conselho da Magistratura)
Áreas de atuação pelo judiciário: Crimes contra Crianças e Adolescentes – Violência Doméstica – Análise Criminal
Possui Especialização em Análise Criminal – Pós Graduação em Criminologia – Especialização em Investigação Civil e Criminal –
Especialização em Línguas Estrangeiras – Formação em Analista de Segurança da Informação – Perícia Computacional Forense
Delegado-Representante da Associação Brasileira de Criminologia (ABC) pelo Estado do Rio de Janeiro com cargo de promover o desenvolvimento e divulgação da Criminologia e estudos criminológicos no próprio Estado
Link para consulta registro ABC: https://www.abcriminologia.com.br/portal/institucional/)
Perito Judicial em Computação Forense e Perícia Digital da APECOF (Associação dos Peritos em Computação Forense)
Link para consulta registro APECOF: https://www.apecof.org.br/index.php/associados