Por Michelly Adriane
Hoje em continuidade ao mês das mulheres, a psicóloga Michelly explica as fases da violência doméstica.
Contrário ao que muita gente pensa, o que torna mais difícil uma mulher sair de uma relação violenta não é a dependência financeira e sim a dependência emocional.
A dependência emocional se instala sutilmente conforme o abusador começa a sujeitar a vítima a diversas e diárias formas de violência.
Quando falamos em violência, as pessoas já pensam em lesão corporal, por que é visível, porém existem outros tipos de violências que devemos considerar em uma relação abusiva.
A primeira é a Psicológica, o abusador destrói a autoestima e o amor próprio da mulher, com comparações e comentários diários sempre com tom pejorativo.
Na violência patrimonial, o abusador controla os patrimônios da vítima, mesmo que ela tenha um emprego com remuneração ou heranças de família não têm permissão para controlar o próprio recurso financeiro. Se caso for dependência financeira apresenta maiores dificuldades de ter acesso a recursos financeiros, tendo somente acesso ao básico como alimentação e o que o abusador achar pertinente.
Nas maiorias dos conflitos vivenciados nestas relações é marcante a presença da Violência moral que é compreendida em três tipos: a calúnia, acusando a mulher de algo que ela não fez sem provas ou evidências. A difamação agredindo a reputação dela e envolvendo outras pessoas. Por último a injúria ofendendo sua dignidade. Um exemplo disso, em conflitos por causa de ciúmes o abusador diz: “Você é uma puta, já saiu com vários homens, está me traindo agora, eu sei disso, vou falar para tua família, você vai ver”.
Outra violência que a interpretação é um pouco equivocada, é a Violência Sexual. Quando uma mulher está casada, é compreendido que ela esteja obrigada a ter relações sexuais com o marido, portanto quando diz que foi estuprada por ele a acusação é invalidada. Qualquer atividade sexual não consentida, posição, formas ou práticas de atividade sexual que uma mulher não se sinta confortável ou se sinta violada é violência sexual.
Após contextualização dos tipos de violência, podemos falar do Ciclo de Violência estudado e desenvolvido por Walker em 1979. Neste estudo compreende-se como se perpetua as relações violentas.
A primeira fase é a “Lua de Mel”, onde o abusador conquista e encanta a mulher com presente e gestos, fazendo ela se sentir a pessoa mais importante e mais amada, aqui acontecem às promessas de proteção e de cuidado que ele se compromete a realizar. Segunda fase é a situação de conflito onde o abusador e a vítima se desentende. Terceira fase é o Episódio de Violência, elas começam de forma sutil e vai progredindo até a violência física. Última fase é o Arrependimento, nesta fase o abusador faz chantagem emocional apelando pela empatia e afeto da mulher, responsabilizando-a pelo acontecimento e prometendo mudar.
Motivos que impedem as vítimas de se libertar das relações abusivas
O comportamento machista é validado e perpetuado culturalmente. Há uma permissão social para os homens se comportarem de forma violenta. Existem esportes que glorificam a violência masculina, no cinema, nas guerras e etc. Esta validação pode ser evidenciada desde a infância, quando uma menina reclama para adultos que está sendo violentada por um menino, ela escuta que o menino gosta dela. “Quem gosta não machuca”.
Algumas meninas são educadas para confundir o amor com violência. Meninas criadas por pais autoritários e mães omissas. O padrão de escolher dos parceiros se perpetua virando um ciclo de repetição sem fim.
Educamos meninas para serem submissas e meninos para serem livres. A liberdade dada a homens permite a violência doméstica.
Por exemplo, no ditado popular: “Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher” ou quando duvidamos de um relato de violência sexual.
O movimento de pais conscientes e de estudiosos agora é educar para igualdade, a fim de terminar com as permissões sociais ao machismo e a violência.
As crenças limitantes das mulheres, estas crenças passadas por gerações e alimentadas pelo machismo, que limita o caminho e os relacionamentos na vida de uma mulher. Exemplos destas crenças:
“Achar que vai mudar e salvar o homem pela força do amor dela.” Primeiro que ninguém tem poder de mudar ninguém e depois que as pessoas só mudam se querem mudar.
“Achar que o casamento deve ser mantido a todo custo e que o único motivo pelo qual terá permissão ao divorcio é a traição do cônjuge.” Esta crença é alimentada muitas vezes pelas religiões, afirmando e se utilizando de ferramentas para ajudar a manter relações falidas.
“Achar que consegue manter uma relação só com amor dela mesmo que o homem não a ame.” Quem ama por dois sofre dobrado também.
“Achar que filhos mantêm ou melhoram os relacionamentos”. Os filhos não tem está função, dar a triste missão a uma criança de consertar aquilo que nem os adultos estão conseguindo.
“Achar que vai provar a todos que consegue salvar ou consertar o homem, orgulho por provar que consegue consertá-lo.” Mulher não é oficina para conserta homem algum, se ele mesmo não buscar se reconstruir com motivos próprios não é você que irá fazer nada. Ele só vai te destruir.
“Achar que homem é tudo igual, e já que está difícil achar um homem bom, você se conforma com o que tem.”
As pessoas não são todas iguais, existem homens de fibra e caráter, assim como existem mulheres tóxicas que se comportam de forma prejudicial aos homens também.
Existem muitas outras crenças limitantes que dificultam a saída das mulheres destas relações abusivas, porém estas são as que escutamos com frequência nos consultórios.
A Falta de Apoio ou Redes de Apoio para acolher e ajudar as mulheres vítimas de violência, o apoio familiar é muito importante neste processo de libertação. As mulheres que não tem este apoio familiar apresentam maior probabilidade de continuar em uma relação violenta até sua morte, infelizmente famílias muito religiosas dificultam a saída delas destes relacionamentos por meio da culpabilização, por este motivo, os índices são maiores de violência domésticas em famílias religiosas.
Quatro Características dos Abusadores
Primeiro, estás pessoas tem dificuldades de tolerar a dor, todas as relações requer tolerância à frustração. Nos relacionamentos saudáveis as pessoas compreendem que a outra mesmo sem intenção irá lhe frustrar, pois têm gostos diferentes, pensamentos diferentes e desejos diferentes que os seus. Em relações abusivas, a pessoa não tem nenhuma tolerância à frustração, portanto procuram sempre revidar.
Segunda característica, ela tem uma falta de empatia. A empatia é uma habilidade emocional que conta com a generosidade como característica. Coloco-me na posição do outro e tenho a generosidade de perceber os sentimentos e o mundo interno dele. No caso do abusador, ele possui uma empatia patológica, se coloca na posição do outro, porém como não tem a generosidade, ele pensa que a vítima está querendo agredi-lo, assim revida violentamente.
Terceiro, ele não tem nenhuma responsabilidade sobre o mal que provoca, usa de cinismo e sarcasmo até fazer a vitima se desestruturar emocionalmente e sentir que deve pedir perdão ao abusador.
Quarta característica são pessoas que tem Traumas não tratados, pessoas que tiveram infâncias violentas, de abandonos e negligências. E como elas não buscam se reconstruir repete o padrão de abuso com as pessoas que se aproximam dela.
As vitimas e os abusadores precisam buscar se reconstruir, em um Processo Psicoterápico pode-se identificar e tratar estes traumas, o terapeuta poderá propor novas formas de enfrentamento e novo repertório comportamental para que possa se relacionar de forma mais saudável.
Para todas as mulheres vítimas de violência existem serviços públicos voltados ao enfrentamento de situações de violência em nosso município hoje podemos contar com o GUARDIÃO DA MULHER (uma equipe da guarda municipal especifica para atendimento de violência doméstica e violência urbana contra a mulher), DELEGACIA DE POLICIA CIVIL (onde temos um cartório Maria da Penha com uma equipe preparada para atender essa vitima na elaboração do B.o) DISQUE DENÚNCIA 180 (Central de Atendimento à Mulher – presta uma escuta e acolhida qualificada às mulheres em situação de violência. O serviço registra e encaminha denúncias de violência contra a mulher aos órgão competentes, bem como reclamações, sugestões ou elogios sobre o funcionamento dos serviços de atendimento), CREAS e FORÚM ( após a elaboração do B.O a delegacia faz a tramitação para estes órgãos e a Patrulha GUARDIÃO DA MULHER realizara o acompanhamento dessas mulheres vitimas, além do aplicativo Botão Pânico, que todas as mulheres com medida protetiva expedida pelo Juiz, conta hoje com esse benefício, a vitima precisara procurar a patrulha GUARDIÃO DA MULHER que constatando o pedido do Juiz será instalado o aplicativo mediante autorização da mesma pela equipe Guardião da Mulher, esses órgãos existem para oferecer apoio necessário caso a mulher queira sair desta relação.
Freud contextualiza dizendo que quando uma criança é tratada mal durante sua infância, ela não aprende odiar os pais, ela aprende a se odiar. Esta criança que aprendeu a se odiar, não se desenvolveu de forma saudável para ter autoestima, autoconfiança e amor próprio, ela só tem dois caminhos, ela perpetua a violência ou ela normatiza-a se tornando uma possível vitima de violência.
“Para finalizar um pensamento que faz muito sentido para mim como terapeuta é que quando não se tem amor na infância fica muito difícil identificar o que não é amor quando adulto”
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