A Secretaria de Saúde de Indaiatuba divulgou um estudo inédito nesta sexta-feira (12), publicado no início do mês de novembro, pela revista do Reino Unido, The Lancet Regional Health – Americas, uma das maiores do mundo no segmento médico, que indica a alta cobertura do teste de DNA-HPV no rastreamento do câncer do colo do útero com a detecção imediata da doença ainda em estágio inicial, antecipando o diagnóstico em 10 anos. O procedimento foi testado em Indaiatuba por pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e do Hospital da Mulher “Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti” (Caism) da Unicamp, com o apoio da Roche Diagnostics. O teste de HPV tem capacidade para substituir em larga escala e maior eficácia, o exame de Papanicolaou (exame citológico) mais comumente utilizado no Brasil.
A pesquisa teve como objetivo central, organizar o rastreamento do câncer do colo do útero em um grande conjunto populacional. Para tanto, os pesquisadores compararam os resultados de 16.384 testes de DNA-HPV realizados em Indaiatuba com outros 20.284 testes citológicos, realizados no período de 2014 a 2020, por mulheres na faixa dos 25 a 64 anos de idade, residentes no município.
Após 30 meses de atividade em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, o programa com teste de HPV demonstrou cobertura populacional superior a 80%, conformidade dos testes, de acordo com a faixa de idade de 99,25% em comparação à obtida pelo programa citológico (78,0%). Dos 21 casos de câncer de colo identificados pelo programa, em mulheres com idade média de 39,6 anos, 67% destes encontravam-se em estágio inicial, em comparação com 12 casos de câncer de colo, detectados pela triagem citológica, com idade média de 49,3 anos, e apenas um caso em estágio inicial.
A Prefeitura Municipal de Indaiatuba instituiu no Sistema Único de Saúde (SUS) o rastreamento exclusivamente por meio do teste de DNA-HPV, substituindo o Papanicolau. Paralelamente, promoveu as condições para a realização do estudo, aliadas aos testes da Roche e a um software desenvolvido pela empresa multinacional e implantado em todas as unidades de saúde da cidade, o Tracking for Life, que foi essencial para organizar o novo fluxo de amostras e resultados na cidade, capacitar os profissionais de saúde para usar os novos algoritmos, garantir que os exames fossem feitos nos intervalos adequados, registro on-line das pacientes para evitar dependência dos dados em papel, além de estatísticas e relatórios. A máquina analisa o teste e a própria ferramenta comunica o sistema de informática da rede de saúde da Prefeitura sobre o resultado, economizando uma série de recursos financeiros antes alocados.
Outra decisão da Secretaria Municipal de Saúde, amparada pela assessoria dos pesquisadores da Unicamp, foi modificar a sua estratégia de imunização contra o HPV, antecipando as vacinas dos meninos a partir dos 9 anos, quando já ocorria a das meninas. Também tomou medidas para que a cobertura vacinal atingisse o mínimo necessário para conter a transmissão do vírus, 80%, diferentemente do que ocorre no restante do Brasil, principalmente pelo estigma associado ao início da vida sexual. A principal delas foi voltar a oferecer a vacina nas escolas, que previne câncer, e que ocorreu em 2018.
Para o médico ginecologista e vice-prefeito de Indaiatuba, Dr. Túlio Tomass do Couto (SOLIDARIEDADE), daqui a dez anos, a expectativa é de que não ocorram mais casos de câncer de colo uterino na cidade. “Nosso objetivo foi realmente inaugurar uma política pública completa e consistente para erradicar o câncer de colo de útero, que é uma doença 100% evitável. Tenho certeza de que esses dados serão úteis, a partir de hoje já, para muitos outros gestores de saúde interessados em salvar vidas e em utilizar da maneira mais adequada os recursos disponíveis para a saúde, com responsabilidade e coragem”, afirmou Túlio.
De acordo com o professor do departamento de Tocoginecologia da FCM e pesquisador líder do estudo, Júlio César Teixeira, além da possibilidade de substituição do exame convencional para o diagnóstico do câncer do colo do útero no Brasil, os resultados obtidos demonstram a necessidade de maior apoio às atualizações dos programas existentes, onerosos e de baixo impacto na mortalidade da doença. “Este estudo de base populacional foi realizado em um cenário da vida real e é um dos estudos pioneiros incluindo mulheres de média e baixa renda e entre 25 a 29 anos, usuárias do SUS. Os resultados são cruciais para fornecer um caminho factível para implementar o teste de HPV como rastreamento do câncer do colo”, disse o docente.
Dentre as inovações oferecidas por um programa de rastreamento do câncer do colo do útero utilizando teste de DNA-HPV, Dr. Júlio destaca a precedência diagnóstica da doença de quase 10 anos em comparação ao exame de Papanicolau. “A detecção em estágio inicial possibilita um tratamento mais barato, menos mutilador e com chances de 100% de cura. Os resultados imediatos, além dos anteriores já publicados com demonstração de custo-efetividade, podem apoiar os gestores de Saúde no estabelecimento de um programa nacional de rastreamento mais eficiente e duradouro e, principalmente, com impacto real na mortalidade”, comentou.
Para Carlos Martins, presidente da Roche Diagnóstica, a experiência representa uma excelente oportunidade para mostrar que as políticas públicas podem ser eficientes quando bem planejadas e executadas de forma colaborativa, inclusive com a iniciativa privada, o que passa necessariamente pela digitalização da saúde e uso inteligente de dados. “Como empresa de biotecnologia 100% focada em inovação, desenvolver soluções diagnósticas só faz sentido se for para transformar a vidas das pessoas e das famílias. Dessa forma, com base em nossa expertise em medicina personalizada e no nosso propósito de fazer agora o que as pessoas precisarão amanhã, procuramos colaborar decisivamente em programas como esse, que contribuem para a sustentabilidade dos sistemas de saúde”, destaca.