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Movimento feito por comunidade de Artur Nogueira pede preservação histórica da Igreja Matriz

Os membros são a favor da reforma, mas prezam pela defesa da memória e identidade do local.

Por: Correio Nogueirense
03/10/2018

Movimento constituído por membros da comunidade nogueirense, defende a Igreja Matriz da Paróquia Nossa Senhora das Dores como monumento histórico para a cidade. Há uma proposta no município que pretende realizar grandes reformas na igreja, fazendo com que ela perca seu valor histórico, edificando uma nova no local.

O Movimento não é contra a reforma da igreja, frente às necessidades estruturais e litúrgicas, porém ela deve ocorrer mantendo a preservação da identidade histórica no local. Representantes da comunidade de Artur Nogueira se uniram pela defesa da memória, da história e do patrimônio religioso e arquitetônico da cidade, discutindo sobre o Projeto de Reforma da Igreja Matriz apresentado pela Paróquia, e através de uma declaração, encaminharam aos Poderes Executivo e Legislativo municipais, Promotoria de Justiça, à Secretaria Municipal de Cultura, aos lideres religiosos da Diocese de Limeira e das Paróquias Nossa Senhora das Dores e Santa Rita de Cássia e aos órgãos de imprensa locais, suas considerações e recomendações, solicitando a manifestação das esferas requeridas.

A paróquia foi criada em 25 de novembro de 1934, com o nome de Nossa Senhora das Lágrimas que foi modificado para Nossa Senhora das Dores no ano seguinte. Nessa época o prédio passou pela primeira reforma e ampliação e a paróquia recebeu seu primeiro vigário, o padre Cecílio Cury em 1935. A partir de então a igreja envolveu a comunidade criando diversas congregações, realizando festas, encontros e cursos na cidade.

A comunidade vendo que, a Igreja Matriz extrapola os limites das memórias de seus fiéis para pertencer às lembranças e a história de todos os moradores da cidade e da região. Segundo eles, embora a edificação tenha passado por três reformas e ampliações, isso não diminui seu valor patrimonial, pois ainda preserva características e a identidade da construção primitiva.

De acordo com o Movimento, a Igreja foi cenário de importantes celebrações religiosas e cívicas da cidade, como a missa da primeira legislatura municipal em 1949. Ela lembra as novas gerações dos esforços de seus antepassados com sua abnegação e comprometimento com a prosperidade da cidade, visto que a população de Artur Nogueira já sofreu mutilação de sua memória com a demolição da Estação Ferroviária. Segundo eles, a construção de uma nova igreja ou mesmo uma reforma significativa das características do templo religioso significa o esvaziamento dos significados simbólicos, afetivos e indentitários da comunidade. Preservar os bens arquitetônicos é uma atitude de responsabilidade social que traz benefícios econômicos ao município.

O Movimento Pró-Matriz exige que o Município em seus Poderes, haja a favor da comunidade, conforme seus direitos. O Movimento conta com mais de 15 representantes e é aberto para toda a comunidade católica e não católica, para colaborar com a preservação histórica da Igreja.

O Movimento apresentou algumas considerações. Confira na íntegra:

PRIMEIRA- Que a gênese do núcleo urbano da cidade de Artur Nogueira constituiu-se no entorno da Estação Ferroviária (1907), da primeira escola no terreno onde hoje está a Prefeitura Municipal (1912) e da Igreja Matriz (1917) e que destas três edificações só permanece a igreja, ela se configura como a única remanescente da origem da história local (STRASSA, 2016).

SEGUNDA- Que a Igreja Matriz extrapola os limites das memórias de seus fiéis para pertencer às lembranças e a história de todos os moradores da cidade e da região e, embora a edificação tenha passado por três reformas e ampliações, isso não diminui seu valor patrimonial, pois ainda preserva características e a identidade da construção primitiva.

TERCEIRA- Que a Igreja Matriz foi o cenário de importantes celebrações religiosas e cívicas da cidade, como a missa da primeira legislatura municipal em 1949, além de ter sido o ambiente de memórias afetivas dos moradores de Artur Nogueira que ali congregaram, realizaram seus casamentos, batizados, formaturas e demais celebrações religiosas.

QUARTA- Que a Igreja Matriz é uma constante lembrança às novas gerações dos esforços de seus antepassados com sua abnegação e comprometimento com a prosperidade da cidade, o que incentiva os mais novos a continuar cultivando esses valores e a dar continuidade a história da cidade de forma crítica e consciente.

QUINTA- Que, conforme identificado por Criscuolo (2016), a cidade de Artur Nogueira conserva seu “aspecto bucólico” de cidade do interior e a simplicidade da igreja reflete a constituição do povo nogueirense, composta de imigrantes humildes, que num esforço conjunto construíram a capela para celebrar sua fé.

SEXTA- Que a cidade de Artur Nogueira vem dilapidando seu patrimônio arquitetônico sacro com a demolição de edificações originais; tome-se como exemplo a Capela de Santa Bárbara (1902) que está abandonada e corre risco de colapso total.

SÉTIMA- Que a população de Artur Nogueira já sofreu a mutilação de sua memória com a demolição da Estação Ferroviária e que a construção de sua réplica em local diverso do original e com novos materiais não representa uma reparação do dano causado.

OITAVA- Que no pensamento ocidental o processo histórico se dá de forma linear por acúmulo de acontecimentos e que a demolição do patrimônio arquitetônico e religioso representa uma dupla ruptura da historicidade com o apagamento da memória para as novas gerações e uma ferida memorial para a população mais antiga que se perpetua por muitas gerações.

NONA- Que a conservação dos bens patrimoniais significa deixar um legado para a identidade local e que romper com o processo histórico é deixar as futuras gerações alijadas de suas raízes e sua identidade, retirando-lhes o direito de preservar sua história e de ter marcos estabelecidos sobre os quais continuar sua trajetória.

DÉCIMA- Que a construção de uma nova materialidade ou mesmo uma reforma significativa das características do templo religioso significa o esvaziamento dos significados simbólicos, afetivos e identitários da comunidade e que uma vez feita a demolição não há reparos, configurando-se uma situação de danação da memória local, que se vê definitivamente privada de seus bens patrimoniais.

DÉCIMA PRIMEIRA- Que a preservação da memória e da história fica comprometida quando a materialidade se perde e que a demolição intempestiva dos bens arquitetônicos é um ato lesivo que causa um sentimento de perda na comunidade.

DÉCIMA SEGUNDA- Que preservar os bens arquitetônicos é uma atitude de responsabilidade social que traz benefícios econômicos, minimizando o impacto ambiental e as agressões a paisagem da cidade e a memória local.

DÉCIMA TERCEIRA- Que as recomendações internacionais e nacionais de preservação do patrimônio ressaltam a importância dos bens arquitetônicos e dos monumentos como forma de garantir a memória e a história das comunidades. Entre elas destacam-se a Carta do Restauro Italiana (1972) que contraria “remoções e demolições que apaguem a trajetória da obra através do tempo” e o Compromisso de Salvador (1970) que reconhece a necessidade de os poderes públicos municipais atuarem na proteção dos bens culturais de valor regional.

DÉCIMA QUARTA- Que a Declaração de Amsterdã (1975) orienta que interferências no patrimônio cultural sejam feitas com o apoio da opinião pública obtida após informações objetivas e completas, de forma clara e acessível a fim de que a população possa conhecer, discutir em reuniões públicas com a coleta de diferentes julgamentos a fim de tomar decisões coerentes e embasadas.

DÉCIMA QUINTA- Que o projeto de reforma apresentado altera significativamente a paisagem e as relações históricas de espacialidade, desarmonizando-se com o cenário do entorno e com o aspecto 4 arquitetônico da cidade, gerando estranhamento e consequentemente depreciação e rejeição da comunidade que passa a não se identificar com a nova edificação.

DÉCIMA SEXTA- Que a edificação em questão se encontra sã, necessitando apenas de manutenção e reparos, não se justificando a sua demolição e que membros da comunidade têm dúvidas sobre o projeto apresentado, questionando sua legalidade em relação ao Plano Diretor do município, bem como a relação custo benefício da obra dado o aumento pouco significativo em relação aos custos previstos (aumento de poucos assentos).

DÉCIMA SÉTIMA- Que o orçamento da reforma onera excessivamente a comunidade por um longo tempo, representando o endividamento da Paróquia, sendo que a realidade econômica do país não é favorável a tais empreendimentos e que durante a realização das obras os serviços religiosos funcionarão de maneira precária por um tempo indeterminado.

DÉCIMA OITAVA- Que a conclusão da pretendida reforma não representa o fim das despesas, pois demanda outras aquisições posteriores, tais como, mobiliário, sonoplastia, iluminação, entre outras.

DÉCIMA NONA- Que as demais comunidades da Paróquia terão que se comprometer financeiramente com a reforma apresentada e isso importa no empobrecimento de tais grupos que são constituídos de pessoas simples dos bairros periféricos e que pouco irão usufruir do empreendimento, sendo que as demais comunidades também têm compromissos com seus fiéis.

VIGÉSIMA- Que um projeto ostensivo como se apresenta é contrário aos princípios da humildade e simplicidade que devem ser observados pelas entidades religiosas, comunitárias e assistenciais, como tão bem prega o Papa Francisco.

VIGÉSIMA PRIMEIRA- Que o termo “Reforma” como vem sendo empregado não representa adequadamente o projeto parcialmente apresentado que altera drasticamente a composição original, demolindo e reconstruindo quase integralmente a edificação. Serão derrubadas grande parte das paredes, pisos, forro, telhado, presbitério, entre outros aspectos. O “liturgicamente correto” empregado como um dos motivos para este tipo de reforma é questionável: por quantos anos mais ela estaria inserida no “liturgicamente correto”, já que esta visão vai se modificando de tempos em tempos? A partir do momento em que foi construída, mesmo que as normas hoje sejam diferentes, ela tem sua identidade, que deve ser mantida e respeitada.

VIGÉSIMA SEGUNDA- Que o projeto elaborado por profissionais, que embora detenham notório saber em projetos arquitetônicos religiosos, parecem desconhecer a realidade local, os interesses da população, suas memórias e sua história.

Pra finalizar eles questionam, “Será que todos sabem que podemos ficar sem igreja por muito tempo, com uma grande dívida (ou podemos dizer um grande investimento pendente), que dependerá da comunidade que não tem condições de colaborações tão generosas, podendo até ocasionar dispersão de fiéis católicos? E nesse caso, quem seria(m) responsabilizado(s) e em quais circunstâncias?”

O Correio Nogueirense entrou em contato com o Padre Edson, mas ele preferiu não se pronunciar no momento.

Confira o projeto nas fotos abaixo:

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