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Município de Artur Nogueira destrói sonhos e lares de idosos

“Não é maldade é crueldade o que fizeram com meus pais”, disse Luciana Milke, filha do casal que perdeu a casa por uma dívida de R$ 4.863,71. O arrematante Marco Antônio Almeida Vancetto não quis fazer acordo.

Por: Correio Nogueirense
16/05/2021
Dona Luiza e senhor Leonel Milke.

O casal octagenário, Leonel Milke e Luiza Mariano Milke, foi retirado judicial e compulsoriamente de seu lar no Bairro Parque Nosso Recanto, em Artur Nogueira, por não pagar o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Luciana Milke, filha do casal, diz que os pais compraram a casa há 30 anos e que a dívida originária era de R$ 1.800, que atualizada à data do leilão atingiu R$ 4.863,71. O casal de idoso está pagando aluguel atualmente de outro imóvel residencial, sendo que recebem um salário mínimo cada. A filha discorda da ação da Prefeitura e diz ter “vergonha” de ser da cidade.

Senhor Leonel Milke, com 80 anos e Dona Luiza, com 72 anos, foram despejados de sua casa em outubro de 2020, sem que a formalidade legal acerca de serem intimados da data do leilão fosse cumprida, pois, seria a oportunidade para quitar a dívida de IPTU.

Luciana ressaltou que o imóvel era bem de família, pois lá moraram por mais de três décadas. “O terreno é grande e meu pai construiu duas casas. Como o meu pai começou a ter alguns problemas de saúde, meu irmão foi morar na casa da frente para cuidar deles”.

Senhor Leonel antes e depois do despejo.

A filha diz que a saúde do senhor Leonel Milke ficou debilitada depois de toda essa situação. “Depois da notificação para desocupação judicial e compulsória do imóvel, meu pai só não morreu pela misericórdia de Deus e de uma pessoa que tem nos ajudado, que encaminhou meu pai para exames. A pressão sobe…. é um desespero para nós, de ver o sofrimento do meu pai. Todos nós estamos sofrendo com essa situação. É de madrugada, meu irmão ligando, avisando que meu pai está fazendo eletrocardiograma e exame de sangue. Descobrimos que é gastrite nervosa e também deu um problema de coração”.

Segundo Luciana Milke, em 2007 seu pai parcelou débitos do IPTU, pagou 10 parcelas, e devido a problemas de saúde, que demandou tempo para a recuperação, seu pai acabou esquecendo as demais parcelas. Mas de 2007 para a frente não existe débito. Ela conta que todo início de ano, eles já deixavam o dinheiro reservado para o pagamento.

Luciana Milke, filha do casal.

A filha conta que seu pai estava sozinho em casa quando recebeu a notificação judicial. “No dia que ele recebeu a intimação, ele estava sozinho em casa, e ele não queria assinar, queria que meu irmão ou minha mãe estivesse lá, mas a moça que entregou notificação para ele disse: “O senhor assinando ou não, o senhor vai ter que desocupar a casa”. Segundo Luciana o pai foi praticamente forçado a assinar o documento. “Aí meu pai, naquela ingenuidade, na simplicidade, assinou, ele foi praticamente forçado a assinar…”.

Luciana diz que seu pai procurou o arrematante da casa, Marco Antônio Almeida Vancetto, mas sem êxito. “Não é maldade é crueldade, meu pai foi até ele (Marco Antônio) oferecendo o valor de R$ 200.000,00, pois, ele arrematou a casa de meu pai pelo valor de R$ 68.000,00, por uma dívida de IPTU na ordem de R$ 4.800,00. O que está sendo inaceitável e injusto, é o valor que ele arrematou a casa. Uma dívida muito pequena.  Detalhe: o arrematante Marco Antônio já colocou a casa de meu pai a venda no valor de R$ 330.000,00”.

Casa do casal já está para aluguel e venda.

Luciana menciona que até então não tinha visto o seu pai chorar, como ele chora pela casa, pedindo por ela. “Desde que tudo aconteceu, meu pai vive no pronto-socorro e no Bom Samaritano, o estado de saúde dele piorou muito. Ele chora quase todos os dias, eu tenho 50 anos, e nunca tinha visto meu pai chorar assim. Ele me pede para ver a casa, fala que a casa é dele, e eu digo que estamos tentando, e enquanto Deus nos der força, nós vamos lutar. Todo dia ele fala dessa casa”.

A filha conta que o casal de idosos está pagando R$ 1.300 de aluguel, sendo que cada um ganha um salário mínimo de aposentadoria e ainda tem água, luz, remédios e alimentação.

Luciana Milke faz um alerta para todos. “Fiquem atentos, porque a Prefeitura não quer saber, eles poderiam ter enviado uma notificação, um aviso, que a casa estaria indo a leilão, mas não é isso que aconteceu, pelo contrário, quando fomos atrás ainda ouvimos que não tinha o que fazer, que era só pagar aluguel. É um descaso. Meu pai dedicou sua vida aqui nessa cidade, e é assim que é recompensado”.

O imóvel que está localizado na Rua Letácio Moreira dos Santos, nº 177, bairro Parque Nosso Recanto, em Artur Nogueira, foi avaliado por três imobiliárias da cidade e o valor médio é de R$ 370.000,00. O arrematante comprou no leilão por R$ 68.731,58.

Faixa no muro que a família colocou na casa em frente alertando que a casa está em disputa judicial.

Assim, o município que deveria proteger e amparar seus cidadãos, sobretudo os mais vulneráveis, avisando-os da possível perda de seus imóveis em leilão judicial, nada faz para alertá-los neste sentido, tornando-se verdadeiro destruidor de sonhos e lares nesta cidade, infelizmente.

Entramos em contato com o arrematante da casa, Marco Antônio Almeida Vancetto, mas até o momento não obtivemos retorno.

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