Há várias décadas, muitos autores distinguem diferentes tipos de inteligência, correspondendo às várias habilidades ou áreas da cognição, como: inteligência verbal, visuoespacial, visuoconstrutiva, inteligência aritmética, capacidade lógica, capacidade de planejamento e execução, capacidade de resolução de problemas novos, inteligência para a abstração e para a compreensão, inteligência criativa, etc. Tais modelos de inteligências múltiplas questionam a noção de inteligência geral (ou seja, a noção de que a inteligência de uma pessoa pode ser expressa ou resumida a um traço latente unifatorial).
Até os anos 1960, os psicólogos que estudam a inteligência formularam um modelo unifatorial da inteligência (Spearman, 1927). Postularam que haveria um fator geral que explicaria toda a inteligência, constructo este denominado “inteligência geral”, abreviado por “g”. Entretanto, a partir dos anos 1960, outros pesquisadores da psicologia da inteligência passaram a propor que a inteligência seria melhor concebida como múltiplas formas de inteligência, ou seja, defendem um modelo multifatorial (Catell, 1971; Gardner, 1994; Goleman, 1994). Essas “inteligências específicas ou parciais” teriam certa autonomia e independência em relação ao constructo global g. Passou-se então a estudar as seguintes formas de inteligência: inteligência social, intrapessoal, motivacional, fluida ou cristalizada, maquiavélica, etc. A dita “inteligência emocional” (constructo em parte sobreposto à noção de “inteligência social”) tornou-se muito popular na literatura de autoajuda. Não há espaço aqui para discussão aprofundada sobre a validade ou consistência de tais constructos, apenas serão apresentados seus principais aspectos.
Inteligência social
Os teóricos da inteligência social partem do princípio de que o indivíduo é um ser social, reflexivo, que participa ativamente de seu ambiente e visa objetivos coerentes com tal ambiente. Os processos cognitivos mais importantes se desenvolvem em relação estreita com o mundo em que se vive. Os comportamentos cognitivos, por serem intimamente conectados com o contexto social, só podem ser compreendidos a partir também da análise de tais contextos.
Inteligência emocional
A inteligência emocional diz respeito ao conjunto de capacidades relativas ao processamento de informações emocionais. As várias definições de inteligência emocional incluem habilidades como autoconsciência emocional, empatia, consciência emocional do outro, capacidade de utilizar emoções para fazer julgamentos, capacidade de administrar conflitos, habilidade de construir laços de trabalho e de trabalhar em equipe. Esse constructo tem sido muito difundido na imprensa leiga; entretanto, sua definição é bastante frouxa e excessivamente abrangente. Ela inclui qualidades humanas diversas como flexibilidade, resiliência, confiabilidade, assertividade e compaixão (Bar-on; Parker, 2002).
Inteligência intrapessoal
Diz respeito à capacidade de entender e avaliar a si mesmo de forma precisa. Abrange, de certa forma, a inteligência social e a emocional, incluindo a capacidade de se inter-relacionar com os outros de forma compatível com o auto entendimento.
Algumas pessoas, apesar de terem um desempenho de modo geral abaixo da média (com escores geralmente inferiores, na faixa de retardo mental ou inteligência limítrofe), apresentam habilidades muito desenvolvidas em domínios específicos da cognição (matemática, arte, música, memória de números, de marcas de carros etc.). São os chamados savants. Tais pessoas reforçam a ideia de certa autonomia entre os distintos domínios da inteligência (Gazzaniga; Heaherton, 2005).
No sentido de integrar o modelo unifatorial ao modelo multidimensional, Carrol (1977) formulou a hipótese hierárquica de três camadas da inteligência. Nesse modelo piramidal, na base estariam cerca de 60 habilidades discretas de inteligência (p. ex., aptidões aritméticas, musicais, etc.). No segundo nível, essas 60 habilidades se reduziriam, por análise fatorial, a 10 habilidades mais amplas. Já no ápice da pirâmide, haveria um fator g que indicaria uma capacidade hipotética unitária de inteligência geral.
Fonte: texto extraído do livro: Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais