Ciências morais

No artigo, a neuropsicóloga Celina Vallim, explica que a conduta moral se refere a aspectos éticos, legais, crenças e normas, envolvendo vários processos psicológicos, como a emoção e a empatia, confira.

Por: Dra. Celina Vallim
20/01/2022

A moralidade é um dos produtos das pressões geradas pela evolução que deram forma à mente humana. A principal função do cérebro humano é produzir respostas que se ajustem às demandas físicas e sociais que o ambiente nos impõe. A geração dessas respostas poderia ter contribuído para a emergência do comportamento moral humano. Mesmo sem saber, em nosso cotidiano vivemos fazendo juízos morais, como ajudar uma pessoa idosa a atravessar uma avenida, mesmo que isso nos atrase para uma importante reunião. Situações como essa representam um dilema moral sobre se devemos agir de acordo com os interesses alheios ou os nossos.

As áreas frontais são chave para a conduta moral, bem como para a cognição social, função cognitiva que procura entender e explicar como os pensamentos, as sensações e o comportamento do indivíduo são influenciados pela presença real ou imaginária dos outros. A conduta moral se refere a aspectos éticos, legais, crenças e normas, envolvendo vários processos psicológicos, como a emoção e a empatia.

De fato, os psicopatas (com ou sem lesão cerebral) mostram déficits em suas emoções e na capacidade de entender as emoções alheias. Há uma forte convicção popular de que os julgamentos humanos são produto de um raciocínio moral deliberado, no entanto, como abordaremos em outras seções mais adiante, são poucas as evidências nas neurociências de que isso seja realmente assim. Ao contrário, como já afirmamos, há evidência suficiente de que as emoções sociais desempenham um papel chave no procedimento moral.

Talvez o raciocínio moral deva ser entendido como uma tentativa de explicar as causas e efeitos de nossas intuições morais. O córtex frontal é idóneo para administrar a cognição social e moral porque ajuda a controlar as reações imediatas a um estímulo (como um rosto ou um gesto) e é fundamental para a previsão das consequências de um comportamento presente no longo prazo.

A identificação dos componentes neurais e de sua relação com os aspectos psicológicos subjacentes na moralidade humana está nos oferecendo um conhecimento essencial para o entendimento dos pontos fortes e fracos de nossa natureza.

Texto extraído do livro: Usar o cérebro – editora planeta

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