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A violência impulsiva e a violência premeditada

No artigo de hoje, a neuropsicóloga Celina Vallim, explica que a agressão humana e a violência têm um alto custo para a sociedade, e sua acentuada prevalência tem incentivado a busca de fatores de predisposição e causas desse comportamento.

Por: Dra. Celina Vallim
17/02/2022

A agressão humana e a violência têm um alto custo para a sociedade, e sua acentuada prevalência tem incentivado a busca de fatores de predisposição e causas desse comportamento.

A violência (quase sempre causada por frustração) pode ser individual e coletiva. Embora os fundamentos da agressão humana sejam multifatoriais (políticos, socioeconômicos, culturais, médicos, ambientais e psicológicos), é claro que algumas formas de agressão, como a impulsiva, apresentam uma neurobiologia subjacente, que só recentemente se está começando a compreender. A ciência procura os fatores biológicos que predispõem a essa conduta.

Pelo visto, a propensão à agressividade impulsiva parece estar associada a uma falta de autocontrole sobre certas respostas emocionais negativas e à incapacidade de compreender as consequências negativas desse comportamento. Os circuitos neurais implicados na regulação da agressão estão relacionados com as áreas cerebrais envolvidas no controle afetivo e do medo. O afeto negativo (que descreve uma mistura de emoções e estados de ânimo como raiva, angústia e agitação) pode provocar ou agravar um comportamento agressivo.

A violência premeditada, por outro lado, representa um comportamento planejado que tipicamente não se associa com a frustração nem é resposta a uma ameaça iminente. Por outro lado, a agressividade impulsiva é espontânea, não planejada, representa uma resposta a um estresse percebido e está associada a emoções negativas como a raiva e o medo. A agressividade impulsiva se torna patológica quando as respostas agressivas são exageradas em relação à provocação. Quando uma ameaça é iminente, essa agressão não premeditada pode ser considerada defensiva, sendo, portanto, parte do repertório normal do comportamento humano.

Acredita-se que a neurobiologia desses dois tipos de agressão seria diferente, ou seja, é possível que a agressão de uma pessoa que comete um ato violento passional tenha bases psicológicas diferentes da agressão planejada e premeditada. Certos defeitos na distribuição da serotonina, mensageiro químico do cérebro, se vincularam à agressão e violência. A serotonina exerceria um controle inibitório sobre a agressão impulsiva. Foi encontrada em pacientes violentos e impulsivos certa diminuição dos níveis de uma substância química que reflete a atividade da serotonina no cérebro. Anomalias genéticas podem interferir na função da serotonina e nas diferenças individuais no comportamento agressivo. Há anormalidades na atividade da serotonina no córtex frontal em pessoas com agressividade compulsiva, embora seja provável que outros mensageiros químicos, como os neuromoduladores e os hormônios, também estejam envolvidos. O córtex frontal normalmente desempenha um papel determinante ao restringir manifestações impulsivas. Um déficit nesse circuito aumentaria a vulnerabilidade de uma pessoa à agressão impulsiva.

Esse tipo de estudo neurobiológico, obviamente, não determina por si só se uma pessoa será ou não agressiva. Como já afirmamos diversas vezes, o entorno ambiental também influi de maneira crucial nas formas de conduta dos seres humanos.

 

Texto extraído do livro: Usar o cérebro – editora planeta

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