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Cérebro em construção

No artigo de hoje, a neuropsicóloga Celina Vallim, explica que compreender em detalhes o amadurecimento cerebral poderia ter implicações fundamentais no tratamento de doenças do neurodesenvolvimento, e também criaria oportunidade para estimular as forças e potencialidades do adolescente. Confira.

Por: Dra. Celina Vallim
27/01/2022

O curso dinâmico do amadurecimento do cérebro é um dos aspectos mais fascinantes da condição humana. Além do fato de que as mudanças cerebrais e a adaptação são inerentes à vida, as fases precoces de amadurecimento, durante o desenvolvimento fetal e a infância, talvez sejam as mais dramáticas e importantes. O cérebro de um recém-nascido representa só uma quarta parte do tamanho do cérebro adulto, e ele continua a crescer e se especializar de acordo com um programa genético  com modificações dadas pelas influências ambientais e do entorno. Muito do potencial e vulnerabilidades do cérebro pode depender das primeiras duas décadas da vida. As primeiras áreas a amadurecer são aquelas envolvidas em funções mais básicas, tais como o processamento dos sentidos e movimentos. Seguem-se a elas as áreas implicadas na orientação espacial e na linguagem. De sua parte, os lobos frontais, fundamentais para o planejamento, a tomada de decisões, a memória de trabalho e o controle do impulso, são as últimas áreas cerebrais a amadurecer e não se desenvolvem completamente até a terceira década da vida. O amadurecimento do cíngulo anterior, uma área que controla nossa habilidade para manter a atenção, ocorre também na adolescência. De fato, um jovem pode observar uma gradual melhora para manter a mente focalizada em variados temas por períodos mais longos e em formas mais complexas de pensamentos.

Essa condição biológica deve ser levada em conta pelas ações de políticas públicas destinadas a essa faixa etária da população. E não só o estado, mas também a comunidade em geral (pais, docentes, comunicadores etc.).

Atualmente, os adolescentes enfrentam uma crescente demanda de tarefas múltiplas. Pesquisadores, psicólogos e sociólogos começam a mostrar preocupação com os efeitos a longo prazo de demandas inadequadas para um cérebro em desenvolvimento. Alguns especialistas notam que nossa sociedade pode estar estimulando o desenvolvimento de respostas rápidas nos jovens, às custas de habilidades valiosas como planejar, refletir e prever as consequências das ações.

Compreender em detalhes o amadurecimento cerebral poderia ter implicações fundamentais no tratamento de doenças do neurodesenvolvimento, e também criaria oportunidade para estimular as forças e potencialidades do adolescente. Quando o processo de amadurecimento se realiza de forma adequada, as recompensas são consideráveis. Um desenvolvimento harmônico torna possível uma capacitação maior para o pensamento abstrato, para imaginar, para planejar e para consolidar a identidade. Em especial, abre caminho para ser uma mulher ou um homem pleno na sociedade.

Texto extraído do livro: Usar o cérebro – editora planeta

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