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Cérebros empáticos

Pesquisas tentam estudar não apenas maneiras capazes de capturar de forma mais confiável os níveis de empatia de uma pessoa, mas também como ela pode ser estimulada e treinada. Confira o artigo de hoje da neuropsicóloga Celina Vallim.

Por: Dra. Celina Vallim
13/01/2022

Já dissemos que a interação entre seres humanos é crucial para a sobrevivência: diversos estudos demonstraram que as pessoas que vivem isoladas apresentam menor expectativa de vida, adoecem mais, têm pior desempenho em provas cognitivas e relatam níveis baixos de felicidade. Essa interação supõe uma relação que não só se justifica na proximidade como também no vínculo que se estabelece com o outro.

O termo “empatia” é aplicado no campo das neurociências num amplo espectro de fenômenos, de sentimentos de preocupação com os outros à capacidade de expressar emoções que coincidam com as experimentadas por outra pessoa e, inclusive, como vimos na seção anterior, a capacidade de inferir o que ela está pensando ou sentindo.

O que é então a empatia e para que ela serve? É possível medir de maneira exata a capacidade empática de cada ser humano? Até hoje, nenhuma das tentativas para quantificar a empatia por meio de medidas relatadas pela mesma pessoa ou avaliações feitas por pares conseguiu captar por completo a ampla variedade de processos afetivos, cognitivos e comportamentais que ela envolve. Essa complexidade pode ter origem no fato de que a empatia é processada por uma rede amplamente distribuída em nosso cérebro, que interage naturalmente e de modo extenso com diferentes regiões neuronais e sistemas cerebrais.

Certa evidência convergente de estudos sobre comportamento animal, de imagens em indivíduos sadios e de lesões em pacientes neurológicos sugere que a empatia depende de uma grande variedade de estruturas cerebrais evolutivamente mais novas, além de incluir estruturas primitivas do cérebro que regulam os estados físicos, as emoções e a reatividade afetiva. Isso demonstra o papel decisivo que desempenha a empatia não só entre os seres humanos, mas também em toda espécie animal em que os indivíduos interagem uns com os outros.

Do mesmo modo, a empatia não só envolve processos afetivos/ emocionais como também processos reflexivos nos quais é necessário adotar perspectiva (por exemplo, estudos em laboratório demonstraram que a empatia tem um papel crucial no julgamento moral). Os pacientes com alguns transtornos neurológicos ou psiquiátricos nos quais falham aspectos da empatia mostram padrões de julgamento moral não assimiláveis com o padrão genético. Do mesmo modo, a empatia é crucial para a motivação e nos aspectos mais sociais da tomada de decisões.

Ultimamente, as pesquisas tentam estudar não apenas maneiras capazes de capturar de forma mais confiável os níveis de empatia de uma pessoa, mas também como ela pode ser estimulada e treinada.

Esse conceito de empatia também é chave para abordar questões sociais. Depois de tudo, se chegamos a desenvolver de maneira progressiva nossa experiência empática em relação a nossa comunidade, é provável que cheguemos a compreender o que pensa o outro e conviver ainda mais pacificamente.

Conseguimos a graça da harmonia não só quando temos ideias comuns, o que é sempre mais confortável e menos estimulante, mas também quando as opiniões são divergentes. A qualidade da empatia está em conseguir fazer da diferença uma virtude.

Texto extraído do livro: Usar o cérebro – editora planeta

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