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Culpa e TDAH

Quantas pessoas ainda acham que determinadas limitações, falhas frequentes, perdas constantes de objetos ou esquecimento de compromissos são puramente culpa de suas decisões ou vontades? No artigo de hoje, a neuropsicóloga Celina Vallim, vai falar sobre isso. Confira!

Por: Dra. Celina Vallim
30/06/2022

Muitos pais chegam ao consultório se culpando, pois acham que os problemas da filha ou do filho vêm de algum tipo de erro que cometeram na educação deles. Estas páginas pretendem ser uma oportunidade desses cuidadores reencontrarem paz de espírito.

“Segundo Dr. Clay Brites, quando eu era mais novo — na década de 1980 —, achava que era lerdo, desastrado, lento para perceber as coisas ao seu redor, que tinha pouca memória. Era constantemente tachado de esquecido por amigos, professores e familiares”.

Quantas pessoas ainda acham que determinadas limitações, falhas frequentes, perdas constantes de objetos ou esquecimento de compromissos são puramente culpa de suas decisões ou vontades? Quantas sofrem sem perceber que problemas biológicos podem também impedir o pleno funcionamento do nosso cérebro, dificultando a realização das tarefas mais simples e cotidianas?

Ninguém é igual a ninguém! As diferenças naturais entre as pessoas fazem com que os resultados de nossas ações variem muito, assim como são diversas nossas potencialidades. Agora imagine isso quando se tem TDAH desde a infância, passando pelas mudanças da adolescência e persistindo na fase adulta. Por quantas experiências essas pessoas passaram sem cumprir o básico em cada fase da vida, crescendo sem desenvolver algumas habilidades fundamentais por não conseguirem prestar atenção suficiente?

Como na grande maioria dos casos o TDAH chega à fase adulta e os prejuízos externos (que afetam o dia a dia) e internos (que afetam o emocional) levam a um aumento da vulnerabilidade do indivíduo, que sofre mais quando criança, continua mal na adolescência e chega destituído, emocional e fisicamente, na vida adulta. São imensos e ainda incalculáveis os custos do TDAH à vida individual e social, e também ao sistema de saúde. Hoje já existem dados de economia de saúde que nos auxiliam a avaliar melhor a demanda pelos tratamentos médicos e não médicos, como o de profissionais da psicologia, fonoaudiologia, pedagogia, terapia ocupacional e fisioterapia, e que também são de grande ajuda na hora de contratarmos empresas de seguro.

Há relatos dos comportamentos que hoje configuram o diagnóstico do TDAH em obras infantis e documentos de instituições pioneiras desde o final do século XVIII, mas o conceito do TDAH somente foi consolidado nos últimos cinquenta anos, e com maior ênfase na infância e na adolescência. Entretanto, dois amplos e reconhecidos estudos populacionais realizados mais recentemente, como o UMASS e o Milwaukee, revelaram que as consequências do TDAH nos adultos também podem ser muito comprometedoras: aumento nos índices de desemprego, acidentes, comportamento criminoso, problemas com a justiça, pagamento recorrente de honorários a advogados, penas de prisão e outros tipos de sentenças, envolvimento com entorpecentes e crises que culminam em separação conjugal.

 

Texto extraído do livro: “Como lidar com mentes a mil por hora” – Dr. Clay Brites (Editora Gente).

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