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É possível medir a felicidade?

No artigo de hoje, a nossa queria neuropsicóloga, Celina Vallim, vai te contar, confira.

Por: Dra. Celina Vallim
16/12/2021

Toda decisão que, por exemplo, como pais tomamos com relação a nossos filhos constitui um meio para conseguir aquilo que poderia ser sintetizado num desejo: sejam felizes. A palavra “felicidade” faz parte do repertório cotidiano e representa um elemento central para o sentido de existência dos indivíduos, famílias, comunidades, embora ele ainda não tenha sido completamente explorado por certas disciplinas científicas. É que existem críticos que argumentam que a felicidade é um conceito amplo e vago e, portanto, duvidam que alguém possa medir a felicidade cientificamente. Apesar disso, nos últimos anos multiplicaram-se os estudos que tentam abordar esse tema tão complexo.

O foco da pesquisa foi dirigido a dois estados que se inter-relacionam: o prazer e o desejo. Os sistemas cerebrais de recompensa são decisivos para ambos. Em estudos de neuroimagens funcionais observou-se que o córtex orbitofrontal, uma região do nosso cérebro desenvolvido mais recentemente do ponto de vista evolutivo, relaciona-se com relatos subjetivos de prazer. De igual modo, demonstrou-se que emoções opostas (por exemplo, tristeza e felicidade) não são concebidas no cérebro como antagônicas, e muitos autores sustentam que essa é a base fisiológica que explica os sentimentos encontrados. De fato, em um estudo que analisou os resultados de 106 trabalhos sobre ativação cerebral diante de emoções, não se conseguiu encontrar uma região específica para a “Felicidade” e outra para a “tristeza”. Ao contrário, como dissemos, pareceria sim existir uma rede completa que regula nossas emoções.

O desafio de saber o que é felicidade já existia em disciplinas humanistas como a filosofia desde o tempo de Aristóteles. E também se manifestou em nosso passado imediato e emerge cada vez mais no presente como questão ligada às ciências sociais.

O conceito da felicidade entrou no campo da política quando o rei do Butão, Jigme Singye Wangchuck, em 1972, inventou o conceito de Felicidade Nacional Bruta (FNB) como resposta às críticas recebidas sobre a constante pobreza econômica do país, cuja cultura se baseava principalmente em questões espirituais. A FNB define a qualidade de vida em termos mais holísticos e psicológicos do que o conhecido Produto Interno Bruto (PIB). Em todo caso, o aumento do PIB representaria só um degrau para se conseguir o crescimento da FNB.

Em 2008, o presidente francês Nicolas Sarkozy encomendou um estudo, liderado por dois prêmios Nobel de Economia, Joseph Stiglitz e Amarrya Sem, para analisar alternativas de medidas mais amplas de satisfação que o PIB nacional. Por sua vez, David Cameron anunciou oportunamente que o governo britânico começaria a coletar dados sobre o bem-estar da população.

Os avanços científicos são o resultado de certa capacidade e inquietude que define o ser humano como tal: a busca permanente do conhecimento. Mas essas conquistas, assim como cada ação que se prática na vida cotidiana, ou o que as sociedades fazem com seus planos e suas eleições, devem ser dirigidas à promoção do bem-estar geral, ou seja, criar condições que proporcionem felicidade. Um duplo desafio para a ciência, então, é preparar esse caminho e entender, ao mesmo tempo, qual é o mapa desse estado que buscamos em nossa peregrinação.

 

Texto extraído do livro: Usar o cérebro – editora planeta

 

 

 

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