Funcionários da limpeza e da enfermagem que atuam no Hospital Bom Samaritano fizeram uma manifestação em frente ao Hospital nesta sexta (10), com o apoio do SINSAÚDE (Sindicato dos Trabalhadores da Saúde de Campinas e Região). A principal queixa dos manifestantes são atrasos nos salários. A ação não atingiu o funcionamento do hospital.
Segundo um funcionário, que pediu anonimato, os profissionais estão sem receber desde julho de 2021. O profissional diz que, o hospital que é o responsável por gerir a mão de obra médica, paga os salários sempre com atraso.
Segundo profissionais ouvidos pelo Correio, o atraso no salário é algo recorrente nas práticas do Hospital Bom Samaritano. O pagamento era do dia 15 ao dia 20 e o vale do dia 30 ao dia 5. Mas o vale foi depositado no dia 13 de agosto, não liberaram a cesta básica, no dia 24 de agosto depositaram os 30% do salário, R$ 480 reais.
Ontem (10), após a presença da equipe do Correio Nogueirense em frente ao Hospital Bom Samaritano, eles depositaram o valor de R$ 480 reais na conta dos funcionários e mais a cesta básica.
Segundo fontes ouvidas pela equipe do Correio, médicos estão recebendo diárias, depositas via pix, antes de iniciarem o turno. Caso não aconteça o depósito, eles não vão trabalhar com medo de ficarem sem receber.
Com a falta de pagamento por parte do Hospital, alguns profissionais estão com aluguéis atrasados, contas de casa vencidas e falta de alimentos. Outros funcionários que cursam faculdades estão com mensalidades atrasadas.
Leandro Barreto, presidente do SINSAÚDE, sindicato que representa os funcionários, conversou com a equipe do Correio. “Nós estamos acompanhando desde julho, junto com os trabalhadores, eles estão recebendo em parcelas e não estão recendo salário desde junho, julho e agosto. Chegou uma situação que os trabalhadores não têm como vir mais trabalhar, eles não estão tendo mais alimentos dentro de casa para seus filhos”.
“O Hospital Bom Samaritano tem o recurso que vem da prefeitura, dinheiro tem! Então a gente está cobrando esta prestação de serviço, que está sendo feita com muito carinho pelos trabalhadores da saúde, que não está sendo remunerado. Estamos aqui para exigir que estes pagamentos sejam feitos aos trabalhadores”, diz Barreto.
O presidente do sindicato menciona várias irregularidades que os funcionários têm enfrentado no Hospital. “Não está sendo pago férias, cesta básica. Tem trabalhador com contrato vencido, sem registro. Médicos trabalhando em quatro, cinco setores. O Hospital Bom Samaritano dá vergonha de trabalhar. Eles não estão cumprindo o dever como um patrão de pagar o trabalho de seus trabalhadores da saúde. Eles salvam vidas. Os trabalhadores pedem o apoio da população e para abrir os olhos da gestão pública para resolver esta situação. Esses trabalhadores não conseguem trabalhar”.
Leandro, finaliza que o sindicato está tomando medidas judiciais contra o Hospital. “Nós entramos com uma denúncia no Mistério do Trabalho e nós vamos entrar com um processo trabalhista, referente a esses atrasos de salário”.
O atual administrador do Hospital Bom Samaritano, Adonai Brum, conversou com a equipe do Correio e deu a versão do Hospital para os atrasos de salários. “Na verdade, todo esse desequilíbrio é em função ainda da pandemia, o que acontece: o Hospital nem tinha essa estrutura, teve que se organizar, para ter essa retaguarda (ele se refere ao atendimento prestado durante a Pandemia de Covid-19). Inclusive com aumento de leitos de UTI. Isso foi um suporte que teve aqui para a região. Nós ficamos como referência para muitos municípios. Havia pessoas de Indaiatuba vindo para cá, em um determinado momento foi encerrado todos esses convênios. E o que acontece, o hospital estava voltado para o atendimento. Nosso DNA é assistencial. Então nós temos como prioridade, atender o paciente, não interessa como, o paciente chegou aqui morrendo, nós vamos atender e dar o tratamento”.
O administrador diz que o hospital focou no atendimento assistencial e houve um desequilíbrio financeiro nos custos. “ As prefeituras têm um orçamento engessado devido ao próprio orçamento, todo mundo buscando um equilíbrio nisso. Um encerramento repentino. Muitos dos convênios de fora foram encerrados. O Hospital ficou com ônus de ter montado toda essa estrutura, temos uma estrutura de 70 profissionais só na UTI. Isso foi feito para atender a pandemia”.
“Hoje da mesma forma que tem atraso com funcionários, tem atraso com fornecedores, é uma situação horizontal. Priorizou-se salários, mas aí deixou o fornecedor em aberto, mas aí você começa a equacionar. Ninguém é obrigado a trabalhar de graça, mas o Hospital não está negando esta situação e está procurando resolver”.
Adonai diz que o Hospital só conta com uma fonte financeira segura. “Nós vamos parcelando, pingando. Hoje eu só tenho uma fonte segura. O convênio com Cismetro, porém, essa conta não fechou. O orçamento não fecha. Eu não vou falar isso, não vou dar data por que é para ontem”, finalizou.
Ainda na tarde de ontem (10), a Prefeitura de Artur Nogueira confirmou o repasse de verba ao Hospital Bom Samaritano. De janeiro a agosto, foi repassado mais de R$ 5 milhões ao hospital para serviços do plano de trabalho em atendimento médico público, como cirurgias, exames, procedimentos, entre outros. Clique aqui e confira os comprovantes de pagamento.
Confira as notas na íntegra:
Hospital Bom Samaritano
Em resposta aos acontecimentos de hoje, em especial, a nota emitida pela Prefeitura de Artur Nogueira.
O hospital informa que em nenhum momento foi falado que houve atraso do pagamento do contrato, de fato o contrato apresenta déficit financeiro o que foi objeto de inúmeras reuniões com os gestores municipais.
Contudo, apesar de todo o esforço despendido a situação não foi equalizada. Dessa forma, será protocolizado perante o Ministério Público, Câmara Municipal e Conselho de Saúde o déficit orçamentário do contrato para análise e transparência do que acontece no hospital, SENDO QUE O ATENDIMENTO CONTÍNUA NORMALMENTE.
Por fim, informamos que em nenhum momento desistimos de lutar pela saúde e por nossos colaboradores, porém, essa luta deve ser travada por todos e, principalmente, pelo município.
Prefeitura
É fato que, nos últimos 4 anos, o contrato da Prefeitura com o contrato com o Instituto Medizin (Hospital Bom Samaritano – HBS), através do Cismetro, não foi reajustado.
Mas, é demasiadamente incompreensível aumentar valores contratuais no presente período pandêmico, tempo em que a atual administração foi empossada.
Sendo assim, o valor contratual da atual gestão foi mantido mediante conformidade entre AMBAS AS PARTES.
Vale lembrar que o contrato entre o Poder Público Municipal e o Hospital pode ser rescindido a qualquer momento por um ou outro. Sendo assim, caso um dos lados entre em discordância, o mesmo pode romper a conciliação.
A Secretaria de Saúde recebe com estranheza a nota emitida pelo Hospital já que este aceitou ao longo de 4 anos da gestão passada receber o mesmo valor. Assim, se porventura o HBS romper o contrato, será necessário que a Prefeitura seja notificada para que sejam tomadas medidas jurídicas e administrativas.
Além disso, a pasta da Saúde Municipal reforça que possui documentos que comprovam e fundamentam o posicionamento da Prefeitura diante dos fatos. Tudo está à disposição de quaisquer órgãos competentes e ligados ao assunto.
A Prefeitura garante ainda que, independente disso, sempre trabalhará incansavelmente para garantir que os moradores continuem recebendo atendimento médico e não sofram consequências negativas.