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Memória autobiográfica

A neuropsicóloga, Celina Vallim, explica que a memória autobiográfica é a que nos permite, lembrar não só os acontecimentos, mas também reviver sentimentos associados a eventos. Confira o artigo.

Por: Dra. Celina Vallim
12/08/2021

Damos o nome de “memória autobiográfica” à coleção de lembranças de nossa história. A memória autobiográfica nos permite codificar, armazenar e recuperar acontecimentos experimentados de forma pessoal, com a particularidade de que, quando ela está em atividade, temos a sensação de estar revivendo o momento. Esse componente pessoal dá uma particularidade essencial à memória autobiográfica: ela é definida pelo episódico, ou seja, podemos dedicar a cada uma de nossas memórias um tempo e um espaço. Por exemplo, é muito provável que nos recordemos da primeira vez que vimos o mar. Quando nos lembramos desse tipo de acontecimento, não só recordamos onde foi e com quem estávamos, como também os sentimentos e as sensações, como a da água nos pés, o barulho do mar e, de algum modo, assim as revivemos. Isso tem sentido porque as estruturas cerebrais que estão envolvidas na memória autobiográfica também alimentam circuitos neurais ligados às emoções.

Os fatos autobiográficos com forte carga emocional são lembrados com mais detalhes do que fatos rotineiros, em que é baixo o envolvimento emocional.

Por acaso não nos lembramos do que estávamos fazendo na manhã do dia 11 de setembro de 2011? E do dia seguinte, também não nos lembramos?

Mas a emoção tem, além disso, um papel cada vez que evocamos esse tipo de lembrança. O modo como nos lembramos de um evento em particular muitas vezes não é uma reprodução exata de como ele aconteceu originalmente, mas o modo como falamos dele da última vez. E se dessa última vez estávamos mais contentes, certamente carregamos a lembrança com esses condimentos. Ao contrário, se nosso animo está mais negativo, com certeza a recordação terá um tom mais pessimista. Quando é evocada, a memória é instável, frágil e permeável a nossas emoções do momento.

Recordar é em grande parte um ato criativo e de imaginação, já que as memórias são reconstruídas quando as evocamos. A memória autobiográfica pode também ser afetada em diversas condições neurológicas e psiquiátricas. Isso pode ser frustrante para o paciente e muito triste para os familiares, que pouco a pouco sentem como esses traços de identidade de seu ser querido vai se deteriorando.

A memória autobiográfica é a que nos permite, então, lembrar não só os acontecimentos, mas também reviver aqueles sentimentos associados a esses eventos. Se apagássemos nossas recordações autobiográficas, perderíamos grande parte daquilo que somos. Afinal de contas, mais importante do que o lugar em que nos achamos é o caminho que percorremos para chegar até ele.

 

Texto extraído do livro: Usar o cérebro – editora planeta

 

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