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O que as novas tecnologias estão fazendo com nosso cérebro?

A neuropsicóloga, Celina Vallim, explica que a sociedade digital se amplia de maneira vertiginosa, transformando aspectos fundamentais do ser humano.

Por: Dra. Celina Vallim
16/09/2021

A tensão entre a exaltação e o pessimismo em nossas sociedades é um fenômeno que se destaca diante das grandes transformações da cultura.

A invenção da internet gerou uma das grandes revoluções da história da civilização, já que modificou profundamente as práticas de sociabilidade, comunicação e acesso à informação. A sociedade digital se amplia de maneira vertiginosa, transformando aspectos fundamentais do ser humano.

Uma das grandes transformações dessa nova realidade se dá a partir da ideia de um presente permanente e de uma totalidade abarcável mediante apenas um leve toque de botão para se navegar pela web (mas poderíamos ampliar para a telefonia celular, o e-mail, o chat, o uso de redes sociais etc.).

Como dissemos, há diferentes tipos de memória que envolvem diferentes áreas cerebrais, sendo o lobo frontal a principal ferramenta de busca do nosso cérebro. Do mesmo modo, essa área do cérebro se associa com a memória de trabalho, ou seja, com essa capacidade de manter disponível na mente a informação, para ser manipulada. O lobo frontal é também fundamental para a capacidade de realizar diversas tarefas simultaneamente, mantendo na mente uma meta principal e de ordem superior. Além disso, essa área do cérebro está relacionada com nossa atenção, ou seja, com a capacidade de focalizar certa informação à custa de outra, de mudar de uma para outra ou de dar atenção (alternadamente) a duas fontes de informação ao mesmo tempo.

Vale perguntar-nos então de que mudanças nosso cérebro em constante adaptação precisa desde que passamos a lidar com essa nova maneira de processar a informação. Essa situação que promove o acesso à informação de maneira absolutamente distinta daquela de cinquenta anos atrás também leva à reflexão sobre até que ponto nosso cérebro pode sustentar essa estimulação operacional e essas múltiplas áreas. Não é casual então o fato de que o lobo frontal seja a área que ganhou mais espaço em nossa evolução.

É importante levar em conta que certo excesso de exigência pode resultar, sobretudo quando o cérebro está em desenvolvimento, em um transtorno compulsivo. A pessoa que passa muito tempo conectada em detrimento de outras atividades, com necessidade imperiosa de se conectar e grande mal-estar se não puder fazê-lo, com dificuldades para se impor limites e sofrendo os efeitos nocivos em seu estado de ânimo (quase sempre depressão e ansiedade), tem os sintomas mais frequentes desse transtorno de dependência.

Isso não significa que os usos normais dessas tecnologias levem a essa condição, mas que, em geral, aqueles que são afetados por ela apresentam uma neurobiologia particular que os torna mais vulneráveis a cair nesses comportamentos compulsivos.

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