O tempo que passa …

No artigo de hoje, a neuropsicóloga, Celina Vallim, explica que existem funções cognitivas que ao longo do tempo se mantêm intactas, como o processamento emocional, a capacidade para se colocar no lugar do outro e a de atribuir estados mentais a outros indivíduos. Confira.

Por: Dra. Celina Vallim
04/11/2021

Dizemos que a velocidade de processamento, a capacidade de manipular informação e as novas aprendizagens são algumas das habilidades que sofrem declínio com o passar do tempo. Mais lentamente, o mesmo ocorre com os conhecimentos gerais, o vocabulário e o conhecimento semântico. Mas existem outras funções cognitivas que ao longo do tempo se mantêm intactas, como o processamento emocional, a capacidade para se colocar no lugar do outro e a de atribuir estados mentais a outros indivíduos.

No que diz respeito à memória, é importante destacar que nem todos os tipos de memória são afetados do mesmo modo à medida que vamos avançando na idade. A memória que implica aquisição e armazenamento de nova informação, a memória mais recente, essa pode ser afetada com o avanço da idade. Ao contrário, é muito menos frequente que a memória remota seja afetada, ou seja, a capacidade de recordar coisas vividas muito tempo atrás. Assim, é muito comum ouvir de uma pessoa já em idade avançada que, enquanto para ela é difícil se lembrar do que comeu na noite anterior, consegue se lembrar perfeitamente de suas férias do tempo em que era criança.

Igualmente, a memória procedimental, da qual, como já afirmamos, precisamos para a realização de atos motores aprendidos e automatizados, é em geral resistente ao tempo. Também não costumam se deteriorar com o envelhecimento normal aquelas memórias relacionadas com os conhecimentos gerais, como se lembrar de qual é a capital de determinado país ou saber que um leão é um felino (memória semântica).

Várias razões justificam o fato de alguns tipos de memória serem mais afetados que outros, e entre elas inclui-se a instabilidade das estruturas neurais que lhes dão suporte. Assim, o hipocampo (lembremos que ele é fundamental para novas aprendizagens) costuma ser sensível à passagem do tempo, sendo essa a razão pela qual essa memória costuma ser afetada quando envelhecemos.

A velhice necessariamente não se faz acompanhar de deterioração cognitiva e intelectual. Embora exista um grande número de pessoas mais velhas que apresentam desgaste em suas funções intelectuais, também há uma grande quantidade de pessoas mais velhas que mantêm as suas preservadas. É por essa razão que já começam a ser pesquisados os fatores que protegem e retardam esse dano cognitivo e aqueles que predispõem a ele. Como já antecipamos, esse ponto específico sobre algumas estratégias para a conservação de um cérebro em forma será abordado em um próximo artigo.

Texto extraído do livro: Usar o cérebro – editora planeta

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