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O Teste do Marshmallow

Hoje nossa neuropsicóloga Dra. Celina Vallim vai explicar sobre o teste do Marshmallow, você já ouviu falar? O teste define uma aptidão chave por trás da inteligência emocional, essencial para construir uma vida satisfatória. Confira o artigo.

Por: Dra. Celina Vallim
27/02/2020

O “Teste do Marshmallow”, como ficou conhecido, foi criado pelo psicólogo Walter Mischel, nos anos 1960, e é tema de um livro.

Na introdução de The Marshmallow Test: Mastering Self-Control (em tradução livre, “O Teste do Marshmallow: Domando o Autocontrole”), publicado em 2014 pela Little, Brown, ele a define como uma aptidão-chave por trás da inteligência emocional, essencial para construir uma vida satisfatória.

A curiosidade como pai de três filhas, entre 2 e 5 anos de idade, à época  se transformou numa experiência científica com meio século de história. Mischel e seus alunos da faculdade de psicologia da Universidade Stanford (EUA) deram às crianças da creche da instituição duas opções: comer naquele momento uma guloseima que tinham diante de si ou ganhar uma recompensa maior (dois doces) se esperassem sozinhas, diante da tentação, até que o pesquisador voltasse para a sala.

A espera podia levar até 20 minutos e a sala não tinha qualquer objeto de distração além da mesa, do prato e da cadeira onde estavam sentados. O que os pequenos, entre 4 e 5 anos de idade, fizeram enquanto esperavam para obter uma recompensa tardia maior acabou, inesperadamente, indicando muito sobre o futuro deles. Naquele momento, não se esperava descobrir tanto do comportamento humano. Mas uma parcela das 550 crianças que participaram do estudo, feito entre 1968 e 1974, foi acompanhada desde então pelos pesquisadores.

Além da continuidade do experimento, Mischel afirma que há duas­ razões principais para não ter escrito o livro antes. A primeira é o aumento no número de pesquisas ligadas a funções executivas do cérebro e, com isso, a grande quantidade de descobertas da neurociência na área. Também conhecida como “memória operacional”, essa é a capacidade do córtex pré-frontal de reter algo pelo tempo necessário para se executar uma tarefa na sequência. Segundo Mischel, este é um excelente momento da ciência para entender a fundo as relações entre mente, cérebro e comportamento.

O segundo motivo teriam sido as interpretações equivocadas sobre o que o teste demonstra, ou não, e quais lições podemos tirar dele. Para começar, o Teste do Marshmallow não se baseou exatamente em marshmallows. As crianças podiam escolher o doce mais tentador – marshmallow, chocolate ou bala, por exemplo.

Mischel revela no livro que era contra testes psicológicos para prever comportamentos humanos determinantes ao longo da vida. Ele só decidiu mergulhar na questão dez anos depois, ao perceber que as notícias trazidas pelas suas filhas sobre os colegas pareciam complementar o estudo. O pai pediu que elas atribuíssem notas entre zero a dez sobre como os amigos se saíam na escola e na vida pessoal. Baseado na opinião delas, notou uma forte relação entre o desempenho social e escolar dos adolescentes e a atitude mostrada quando eram crianças diante da tentação.

Os pesquisadores fizeram, então, um questionário para os pais, que nunca souberam se seus filhos tinham devorado o primeiro marshmallow ou aguardado o segundo, darem notas aos garotos, em relação aos seus colegas. Os professores também responderam a um questionário sobre a vida acadêmica daqueles jovens. Os resultados surpreenderam. Em comparação com os mais impulsivos, os mais resistentes mostravam, dez anos depois, ter mais autocontrole em situações frustrantes; resistiam mais a tentações e tinham melhor concentração. Além disso, eram mais inteligentes e autoconfiantes e menos propensos a atitudes imaturas e a envolver-se com substâncias ilegais.

Quando chegaram à fase adulta (27-32 anos), foram avaliados novamente. Comprovou-se que as crianças que não cederam à tentação tinham melhor autoestima, eram mais eficazes para­ atingir metas de longo prazo e lidavam melhor com situações frustrantes e estressantes. Também tinham índice de massa corporal menor e eram mais resilientes. Quando os participantes atingiram a meia-idade, foram feitas novas checagens sobre seu estado de saúde, de trabalho, físico, financeiro e emocional e até ressonâncias magnéticas do cérebro. Os exames apontaram diferenças significativas entre um grupo e outro nas áreas ligadas à obesidade e aos vícios.

O Teste do Marshmallow provou que, desde pequena, a pessoa já dá sinais da sua capacidade de inibir atitudes mais impulsivas. Embora alguns já nasçam com maior tendência ao autocontrole que outros, a boa notícia que Mischel traz em seu livro é que praticamente qualquer um pode desenvolver essa habilidade.

 

Fonte: O Teste do Marshmallow, Autor: Mischel,Walter, Editora Objetiva

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