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Sobre a amnésia

No artigo de hoje, a neuropsicóloga Celina Vallim, explica que o sintoma característico da amnésia é o esquecimento, que pode afetar a capacidade de realizar novas aprendizagens (amnésia anterógrada) ou a capacidade de evocar o material aprendido antes da lesão cerebral (amnésia retrógrada). Confira.

Por: Dra. Celina Vallim
07/10/2021

A amnésia é uma síndrome caracterizada pela dificuldade para a aprendizagem de novo material e para a evocação de eventos passados, apesar de existir uma habilidade intelectual global preservada. O sintoma característico da amnésia é o esquecimento, que pode afetar a capacidade de realizar novas aprendizagens (amnésia anterógrada) ou a capacidade de evocar o material aprendido antes da lesão cerebral (amnésia retrógrada).

A amnésia anterógrada foi descrita como uma condição produzida após o dano dos hipocampos. A função dessa área cerebral na capacidade de realizar novas aprendizagens fica exposta a partir da descrição do caso de um paciente. HM era um jovem com epilepsia temporal desde os nove anos de idade, que não melhorava com tratamento farmacológico. Para controlar suas crises epilépticas, o paciente foi submetido a uma operação para a ressecção bilateral de seus hipocampos. Após a operação, HM perdeu a capacidade de formar novas memórias pessoais, apesar de suas funções cognitivas além disso terem permanecido conservadas. Assim, todas as pessoas que HM conhecia depois de ter sofrido a lesão eram esquecidas instantaneamente, e a cada dia seus terapeutas tinham que se apresentar a seu paciente, já que não havia nenhum registro de que ele os tinha visto anteriormente. Mais tarde, e com o estudo de outros casos semelhantes ao de HM, a relação entre a capacidade de realizar novas aprendizagens e a estrutura cerebral denominada “hipocampo” foi restabelecida.

Lamentavelmente, o hipocampo pode ser afetado por diversas razões. Como suas células são muito frágeis e sensíveis à falta de oxigênio, todas as lesões relacionadas com deficiência de oxigênio arterial podem apresentar síndromes amnésicas do tipo das que ocorrem no hipocampo: paradas cardíacas, problemas respiratórios, intoxicação por dióxido de carbono etc. Além disso, como trataremos adiante, o hipocampo é por excelência a estrutura associada à doença de Alzheimer.

Outra síndrome que apresenta características semelhantes à amnésia hipocâmpica é a amnésia global transitória, que costuma ocorrer com pacientes de idade entre sessenta e setenta anos. O paciente desenvolve repentinamente uma amnésia anterógrada brusca, tornando-se incapaz de reter qualquer informação nova por mais de uns escassos segundos. Essa amnésia anterógrada é acompanhada de uma amnésia retrógrada variável em relação aos fatos ocorridos durante as últimas semanas, meses e inclusive anos. Os pacientes ficam desorientados e repetem continuamente as mesmas perguntas, embora não tenham problema de atenção, de consciência nem de linguagem. Depois de umas poucas horas, a habilidade para armazenar novos dados se recupera, e a amnésia retrógrada diminui, até que só persiste uma lacuna amnésica que abarca o tempo em que durou o episódio. O prognóstico geral é excelente, e não se conhece a causa desse transtorno, embora tenha sido associado à enxaqueca.

Os traumatismos cranianos também podem gerar um estado similar ao da amnésia global transitória, mas em geral com amnésia retrógrada muito limitada e outras capacidades intelectuais afetadas.

Com relação à amnésia retrógrada (a incapacidade de lembrar acontecimentos anteriores à lesão cerebral) pode-se dizer muito menos, por ser ela muito rara (embora tenha sido descrita depois de dano no córtex temporal anterolateral ou nos lobos frontais). Alguns estudos clínicos mostraram que certos traumatismos cranianos podem causar amnésia retrógrada profunda dos fatos ocorridos horas ou dias antes do trauma.

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