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Uma situação socioeconômica difícil pode agravar o desgaste cognitivo na doença de Alzheimer?

No artigo de hoje, a neuropsicóloga Celina Vallim, explica em que medida a genética e o ambiente influem no curso da doença. Confira.

Por: Dra. Celina Vallim
25/11/2021

Sim, principalmente se ela gerar problemas que resultem num baixo nível educacional e em má alimentação, já que, como se disse, eles representam maior risco de manifestação de demência.

De fato, em que medida a genética e o ambiente influem no curso da doença?

A etiopatogenia, ou seja, a origem da patologia da doença de Alzheimer, é múltipla. Como já afirmamos, o mal é hereditário entre 1 % e 5% dos casos doença de Alzheimer genética, iniciando-se geralmente antes dos 65 anos de idade). Nos demais casos (doença de Alzheimer complexa ou esporádica), a etiologia é multifatorial, com diversos fatores de risco entre os quais se incluem: a predisposição genética (pelo aumento da frequência se houver um parente em primeiro grau com a doença e mais ainda se forem vários), a idade (é mais frequente desde os 65 anos, idade a partir da qual o risco é duplicado a cada cinco anos) e fatores de risco exógenos (ambientais) que parecem favorecer o desenvolvimento da doença, como ocorre com os traumatismos cranioencefálicos graves. No Alzheimer esporádico, nem os fatores genéticos nem os ambientais, dissociados, provocam a doença. Os fatores genéticos e ambientais associados entre si são necessários, mas não suficientes, porque além deles há ainda hoje outras causas que desconhecemos.

Que estudos de imagem específicos existem atualmente para se detectar a doença? Ela só pode ser reconhecida quando já há sintomas avançados?

Ainda não há nenhum teste diagnóstico de laboratório para determinar ou confirmar a doença de Alzheimer. Os métodos clínicos atuais combinam avaliação neurológica, testes neuropsicológicos e imagens com as referências do cuidador e o julgamento do examinador. Realizado por um médico treinado, esse método tem um altíssimo grau de precisão no diagnóstico da doença de Alzheimer. Em geral, o reconhecimento das diferentes demências depende da integração, feita pelo profissional, dos dados da história clínica com o exame neurológico e físico geral, a avaliação do estado mental e os resultados de exames complementares selecionados. Para fazer o diagnóstico, é fundamental que o médico possa se concentrar detidamente nas informações fornecidas pelo paciente e por seus familiares. O exame físico geral pode dar indícios de problemas que possam comprometer as funções intelectuais, enquanto um exame neurológico em profundidade fornece as informações necessárias para se determinar o nível de comprometimento do sistema nervoso central. A avaliação do estado mental, ou seja, neuropsicológica, é importante para se determinar o tipo de dano intelectual, quantificar o grau de desgaste e permitir o controle da evolução do paciente, bem como avaliar a possível eficácia de determinados tratamentos a serem adotados a seguir. Em pacientes com demência, há exames de laboratório que são indispensáveis para detectar a presença de alguma doença clínica que afete a memória (por exemplo, o hipotireoidismo). A tomografia computadorizada e a ressonância magnética exercem também um papel fundamental no diagnóstico da demência.

Ambos os procedimentos permitem diagnosticar lesões (por exemplo tumores ou infecções) que podem afetar os processos cognitivos como a memória e a linguagem, enquanto nas doenças degenerativas, como Alzheimer, se observa atrofia cerebral. Estudos que combinem técnicas modernas de neuroimagens, genética e exames específicos de memória ou outra função cognitiva talvez no futuro possam predizer pessoas assintomáticas tenham mais probabilidade de desenvolver doença de Alzheimer. No entanto, atualmente, é impossível identificar de forma pré-sintomática, pessoas que apresentem risco de desenvolver a doença de Alzheimer, exceto em raros casos atípicos hereditários. Apesar dos avanços sobre os estudos que vêm sendo desenvolvidos, o diagnóstico definitivo da doença continua sendo a detecção de características específicas por necrópsia ou biópsia de pacientes. É importante insistir em que não existe hoje nenhum teste de laboratório  biomarcador que determine um diagnóstico definitivo. A maioria exames complementares que têm surgido recentemente são utilizados  em clínicas de memória interessadas em pesquisa ou protocolos farmacológicos. O objetivo nos próximos anos será tentar identificar pessoas que não tenham sintomas da doença de Alzheimer, mas que apresentem alto risco de vir a manifestar o mal. A combinação de técnicas refinadas em neuropsicologia, genética, imagens e biomarcadores líquido cefalorraquidiano poderia atender a esse objetivo ambicioso que será crucial no desenvolvimento de um tratamento que mude o curso da doença.

 

Texto extraído do livro: Usar o cérebro – editora planeta

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