Qualquer caracterização dos problemas de memória deve ser feita com precaução, já que é preciso levar em conta não só os critérios de conteúdo (o que é que se está esquecendo), como também critérios de percurso (como o problema começa e evolui), anatômicos e etiológicos (quais são suas causas).
Ao chegar um paciente a uma consulta, é fundamental que o médico identifique também o contexto cognitivo, ou seja, quais outras áreas estão afetadas: quando os esquecimentos são a queixa principal, deve-se reconhecer se a memória é o único aspecto da cognição que está afetado ou se os problemas de memória são apenas os mais perceptíveis ou fáceis de identificar de um espectro mais amplo de problemas. É comum na prática clínica que pacientes se queixem de dificuldades de memória, mas na realidade possuam déficits mais gerais ou envolvendo outros domínios cognitivos (por exemplo, anomia, transtornos do estado de ânimo ou, como temos visto, alterações da atenção).
Os critérios de evolução da doença são também importantes para a amnésia. É útil detectar se há variação ao longo do dia ou uma sensação de flutuação da severidade do déficit. Além disso, pacientes com disfunção executiva podem ter um rendimento inconsistente em provas de memória. É possível caracterizar as síndromes amnésicas como de início rápido ou gradual e usar essa dicotomia no diagnóstico diferencial. No entanto, determinar o começo da evolução da enfermidade pode ser difícil, especialmente na ausência de alguém que nos forneça um relato confiável.
Texto extraído do livro: Usar o cérebro – editora planeta
